– Eu estou meio brabo comigo mesmo.
– Porque?
– Ah, esse ano não fiz nada da vida sabe?
– Não?
– Não… está tudo na mesma… nada muda sabe?
– Do que você está falando?
– Ah… eu não tenho meu dinheiro para fazer minhas coisas ainda sabe? Isso me frustra!
– Ah sim, claro, mas o que você fez esse ano?
– Nada!
– Bem… você foi à faculdade, tirou boas notas que eu sei, tem se envolvido em projetos e muito provavelmente, ano que vem, terá um estágio que você me contou.
– Ah, isso sim, mas tipo, não estou com o meu dinheiro ainda sabe?
A auto motivação tem um pouco de técnica e um pouco de arte. Conhecer alguns critérios que usamos para nos motivar pode ajudar a entender porque deixamos algumas coisas de lado e como voltar à ativa.
Avaliação de resultados
Algumas pessoas são preto no branco, outras compreendem tons de cinza. Quando o assunto é motivação, é importante saber lidar com as duas situações. As pessoas “preto no branco” avaliam resultados digitalmente, ou seja, ou algo aconteceu, ou não. É como um gol no futebol, não há “meio gol”, ou foi feito ou não foi. Já os “tons de cinza” equivalem a avaliações de qualidade. No mesmo exemplo, avalia-se como o gol foi feito, se o time jogou bem e criou a jogada ou se foi sorte.
É importante saber como avaliar seus resultados relacionando-os com o tipo de meta que você pretende atingir. Os problemas em relação à este tópico tendem a ser a rigidez na maneira de avaliar. Por exemplo, a meta em emagrecer, em geral, se estabelece com um peso ideal. Quando a pessoa assume uma concepção preto no branco, avalia da seguinte maneira: cheguei no peso ideal? Sim ou não?. Os quilos que já podem ter sido perdidos ou a melhora na condição física somem diante do panorama estreito do número na balança. Quando lidamos com alguém assim, temos a sensação de que a pessoa é muito rígida.
De outro lado, algumas pessoas se atem tanto à pequenos detalhes que perdem a meta de vista. A sensação que temos ao ver alguém assim é que a pessoa está tentando justificar o fato de não ter atingido suas metas. Ambos os casos atrapalham a pessoa em avaliar se o que ela está fazendo é bom ou não, se está ou não atingindo aquilo que se propôs. Esta falta de uma avaliação bem definida torna o processo da auto motivação muito difícil.
Existem situações em que os extremos precisam ser considerados. Alguns objetivos são muito específicos e, nesse caso, a avaliação é feita quase que integralmente, em uma perspectiva digital. O gol no futebol é assim, ao fim do jogo, avalia-se quantos gols foram feitos afim de determinar quem venceu. Aquele que tem mais gols vence, ponto. Assim, quando se pensa em termos de resultado final, em geral as avaliações são feitas de maneira digital.
Outras situações que envolvem muitos critérios, cenários e comportamentos tendem a ser avaliados de maneira qualitativa. Essas são as situações em que vários elementos contam, cada um tem um peso específico e o veredito digital se torna insuficiente ou estranho. Como em uma avaliação de saúde, é possível dizer que “está tudo bem”, porém só é possível se os vários critérios estiverem todos bem. A pessoa pode estar bem de forma geral, mas com problemas em um ou alguns critérios de sua saúde.
Para usar a estratégia digital é importante verificar se o objetivo é específico e para que é importante que ele seja dessa maneira. Quanto mais específico, mais digital. É diferente dizer: “quero comprar uma casa” e dizer: “quero comprar uma casa de dois andares, com metragem total de 300 metros, no alphaville, face norte”.
A estratégia digital, não se verifica pelo objetivo em si, mas sim pela necessidade desse objetivo ser da maneira que é. Em outras palavras, a especificidade precisa atender à alguma função, mesmo que essa seja psicológica: quero uma harley porque é um sonho de infância. Quando o objetivo é muito específico sem nenhuma função atribuída à essa especificidade a meta se torna insossa.
A estratégia qualitativa é melhor empregue quando temos vários fatores à considerar. Nesse caso é importante compreender quais são os fatores mais importantes, os menos importantes e que peso dar a cada um. A compra da gasolina em uma viagem de férias tem influência direta pequena no quesito diversão, porém, sem ela a pessoa não irá viajar.
Ao empregar uma estratégia qualitativa, o risco que não se pode correr é o de se perder no meio da caminho. Considerar um número de elementos muito grande (o que torna a avaliação impossível) ou dar o mesmo peso à todos eles (o que demonstra falta de foco). Nesses casos, a meta se torna uma corrida maluca atrás de qualquer critério que passe pela frente. Em geral, esse tipo de confusão nos leva à sensação de correr muito e não realizar nada.
Abraço