– E se não der muito certo?
– E se der, vale à pena?
– Vale. Mas… e se eu me arrepender depois.
– Pode lidar com o arrependimento oras.
– Entendi. Mas será que é mesmo isso que eu quero?
– O que você acha?
– Não sei sabe, agora vi que era, mas não sei se é.
– Me parece que para cada solução que arranjarmos, você colocará um novo obstáculo. O que acontece aí?
“Buraco sem fundo” é uma expressão usada quando a pessoa não se satisfaz, mesmo quando é atendida em suas necessidades. O buraco sem fundo, também é, de certa forma, a dúvida (eterna) sobre agir ou não. Qual a relação entre ambos, confira aqui.
Para muitas pessoas, o ponto final de uma meta é apenas o inicial de outra. Esta característica pode ser boa ou ruim. O lado bom traduz-se em produtividade e persistência. É a pessoa que sempre busca elevar-se, melhorar e ir além. O ponto negativo é aquela que constantemente dá atenção àquilo que falta. A diferença entre uma e outra pode ser vista na comemoração. O lado bom sabe comemorar aquilo que alcançou, o lado ruim, apenas vê que “precisa ter mais”.
Assim inicia-se a saga daqueles que são “baldes furados” ou “buracos sem fundo”. Essas pessoas tem em sua constituição a característica de olhar apenas o que não tem. Quando se satisfazem, imediatamente, produzem nova falta. O problema, portanto, não é localizado em atingir a meta ou na quantidade daquilo que recebe, mas sim em reconhecer o fim de algo.
Atingir metas é o exercício de um fim. Dizer-se satisfeito significa aceitar a saciedade. Relaxar frente ao fim de um trabalho é confiar no resultado. Assim aquele que tem dificuldades em terminar algo é porque não consegue relaxar plenamente, confiando no resultado de seu próprio trabalho. Também temos a variação da pessoa que não consegue relaxar frente a sua percepção de saciedade. O desejo por “algo mais” nesse caso não é adequado, pois nunca traz a saciedade ou o relaxamento. Pelo contrário, parece trazer mais ansiedade à medida em que a pessoa tem suas conquistas.
A variação desse sintoma é a pessoa que nunca sabe o que quer. Esta sempre busca uma certeza a respeito do seu desejo. Porém, se você oferecer à pessoa uma certeza, ela irá buscar por outra e mais outra. A ideia em ambos os casos e não se comprometer. Enquanto o primeiro não se compromete com os limites alcançados, o segundo não se compromete em correr atrás dos limites, ambos desejam algo que “não está lá”.
Este “algo” é uma condição interna de confiança naquilo que se deseja. Em geral pessoas inseguras tem este tipo de comportamento, seja em uma ou outra variação. A insegurança faz com que se busque a certeza. A certeza, porém, nunca vem enquanto estamos fazendo ou quando estamos nos preparando para fazer algo. “Certeza” é uma percepção de passado, ou seja, só é possível sentir certeza sobre o que já se passou. Neste sentido o que se busca é algo que não se pode atingir.
A segurança que se busca fora, precisa ser criada dentro da pessoa. Nesse sentido é que não importa se ela for ou não se arrepender daquilo que fez ou se aquilo que julgou suficiente se mostrou pouco. O mais importante é o treino de confiança em sua auto percepção. É como na arte da degustação: você precisa aprender a confiar em seus sentidos.
Abraço