– Eu não sei mais o que faço Akim, esta situação com meus pais me deixa louco.
– Eu sei, eu sei. Mas também sei que você sabe o que fazer.
– Eu sei, mas é tanto problema que não sei sabe?
– Claro, compreendo, você prefere se perder nesses problemas ao invés de encarar “o” problema.
– Que é?
– Você sabe qual é. Eu não posso ficar me repetindo, está na hora de você dizer e assumir… ou não.
– Eu entendo… é que… é difícil para mim.
– O que é difícil?
– Se eu faço o que eu penso que devo fazer vou me sentir mal frente aos meus pais.
– Sim, este é o problema.
– O que eu quero fazer?
– Não…
– Eu achar que não tenho direito de fazer aquilo que eu quero né?
– Você sabe…
Muitas pessoas trazem muitos problemas para a terapia. No entanto, nem sempre desejam resolvê-los. Alguns problemas nada mais são do que esconderijos dolorosos nos quais nos escondemos dos verdadeiros problemas.
Existem problemas com “p” minúsculo e maiúsculo. Na psicologia falamos em causa e sintoma. Algumas coisas são sintomáticas, incidentais. Parecem um problema, mas são apenas consequências de alguma coisa que é, esta sim, o problema. Ao contrário do que parece, este problema com “p” maiúsculo, em geral, é conhecido das pessoas. Na verdade, boa parte de nós cria os problemas com “p” minúsculo apenas para se afastar do outro, ou seja, muitos de nossos problemas não são, de fato, problemas, mas uma tentativa de solucionar o Problema.
Nesta vertente, temos, por exemplo, medo de encarar nossos medos. Achamos que dizer “tenho medo” é algo idiota ou que isso nos torna “fracos”. Assim, nos tornamos arrogantes e prepotentes diante de nossos medos. Sentimos a emoção, mas tratamos de escondê-la rapidamente. Não raro, sabemos que temos que fazer isso porque “ninguém mais fará por nós”. Esta sensação de desamparo nos faz buscar uma força que nem sempre temos ao custo de negar a emoção do medo.
O “Problema” é simples: olhar para o desamparo que sentimos. Os problemas são vários e todos oriundos da resposta que demos ao desamparo: prepotência. Ao ser prepotente minhas relações podem se tornar conturbadas, posso ter problemas em dormir à noite e questões relacionadas ao trabalho onde me dizem que sou um bom profissional, mas não sei me relacionar, o que me deixa muito bravo. Estes são os motivos pelos quais a pessoa busca a terapia.
Mas, no fundo ela sabe que o “x” da questão não é esse. Ao mesmo tempo, esconde isso. Nos momentos em que está sozinha em casa ou que alguém lhe diz “adeus” o medo vem, rapidamente, à tona, assim como a reação de esquiva à ele. Estes motivos se mantém escondidos dela enquanto ela não quiser vê-los. Ao mesmo tempo é aí que a resposta verdadeira reside. É neste “Problema” que se encontram as respostas porque ele é a origem dos outros que são, apenas, incidentais.
Muitas vezes esta dinâmica não é apenas pessoal, é familiar. Algo ainda mais enraizado e ao mesmo tempo, exposto. O problema é que vemos, mas não queremos olhar. Tenho seguido, já faz algum tempo, uma frase de Salvador Minuchin: “o problema se mostra nos cinco primeiros minutos da sessão”. É incrível o quanto isso é verdadeiro, basta ouvir, basta ver, sem preconceitos e sem medo aquilo que está diante de nós.
O convite que faço ao leitor é: olhe sem medo para aquilo que você sabe que é o problema. Permita-se ficar no “não sei”, para depois ir ao “talvez seja isso” e, finalmente: “é… é isso mesmo, no fundo, eu já sabia”. Permita-se esta coragem, pois a força e confiança em si, nascem apenas a partir das atitudes.
Abraço