– Mas sabe Akim… eu não sou bem vindo lá.
– Como sabe?
– As pessoas não me tratam da mesma forma que tratam meu irmão, por exemplo.
– Entendo. O que te faz saber que isso é uma evidência de não ser bem vindo?
– Não entendi.
– Será que eles tratam você diferente por não quererem você lá ou por outro motivo?
– Não saberia dizer, nunca perguntei isso.
O sentimento de pertencimento é básico ao desenvolvimento de uma boa saúde mental. Porém compreender qual o nosso lugar nem sempre é uma tarefa simples de resolver.
O primeiro grupo no qual buscamos pertencimento é nossa família. Tratamos como “família” num primeiro momento as pessoas que estão perto de nós e oferecem abrigo, proteção e alimento. O sentimento de pertencer tem a ver com um determinado lugar que sentimos nos oferecer garantias em relação à nossa sobrevivência e depois à nossa auto estima.
Algumas vezes, para compreender o lugar que temos, é necessário abrir nossa visão e olhar além de nossa família nuclear. Nosso lugar pode estar compreendido quando olhamos a família ampla que inclui nossos tios e avós. O lugar de pertencimento nem sempre está onde achamos que está ou da forma que achamos que deveria estar. O que mascara isso são os conflitos que vão se colocando nas nossas relações ao longo da vida.
O lugar é conquistado de certa forma, pois envolve nosso esforço ativo em buscá-lo. Esta busca não é uma guerra aberta contra a família, pois nada tem a ver com isso. O conhecimento do lugar que ocupamos se dá pelos sentimentos reais sentidos e não por ideias pre concebidas do que deveria ou não ser.
Ao mesmo tempo o lugar é sentido e introjetado. Ao mesmo tempo que precisamos nos esforçar para ver onde estamos, também é importante relaxar para conseguir sentir o que precisa ser sentido. Este trabalho não é sempre fácil. Os conflitos mascaram as nossas intenções assim como a de outras pessoas. É comum que a verdade esteja logo diante de nossos olhos, mas lealdades mal empregadas e sentimentos possam nos impedir de vê-la.
A verdade é que o lugar é algo um tanto selvagem. Não se trata de ideologias ou conceitos sobre como ou o que deve ser feito, mas sim sobre o lugar que é possível se ter dentro de uma família. Olhar a família sem preconceitos é observar a maneira pela qual tudo está estruturado. Isso nos ajuda a compreender onde há lugar.
Um exemplo clássico é quando um filho morre. O próximo filho, quase que invariavelmente, irá ocupar o lugar deste que morreu. É uma questão de estrutura, não de conceitos. É o lugar que está disponível. Outro exemplo é o do primogênito, quando uma família não tem filhos, o primeiro que vier será o primogênito, não existe outro lugar para ele. Todas as expectativas sobre primogênitos recairão sobre ele.
Olhando a família como ela é, também eximimos de culpas aqueles que nela habitam ao nos darem o lugar que temos. Em muitos casos o lugar que recebemos era o único que poderíamos receber. Nosso desenvolvimento posterior reforça ou enfraquece o lugar e as características dele, mas é de lá que viemos. Agradecer o lugar e honrá-lo mesmo quando não gostamos dele é fundamental, pois este é o lugar de onde você veio, este, é o seu lugar.
Abraço