– Mas sabe Akim… eu não consigo não falar nada.
– Eu sei, por isso é que vocês tem tantos problemas.
– Então não tenho que falar nada? Deixar ele assim?
– Se não fosse ele, como você reagiria à este tipo de comportamento?
– Ah, eu daria uns belos de uns limites…
– Porque, então, ao invés de ficar “falando” porque na verdade você está cobrando ele, você não dá os limites?
– Não tenho coragem.
– Entendo, mas veja, isso é a sua verdade, os limites. A conversa é apenas uma fuga do medo que sente. Medo do que?
– Se eu der os limites, temo que ele fique brabo e a gente brigue.
– Mas vocês já estão brigando… não seria bom brigarem pelos motivos certos pelo menos?
– Pensando assim…
Muitas pessoas se importam demais com as outras. Demais mesmo. Um dos pontos importantes para se refletir sobre isso é que elas se culpam ao ver os defeitos dos outros. Será possível aceitar que o outro é o outro?
Algo comum em terapia é ver pessoas que “precisam” concertar as outras. Não conseguem ver alguém com algum problema ou característica incômoda que logo se colocam a arrumar esta pessoa. É comum que essas pessoas carreguem dentro de si um sentimento deslocado de culpa ou responsabilidade perante o outro e seus problemas. No entanto, é importante verificar se essa responsabilidade é verdadeira ou não.
Adentrando no raciocínio que é criado por essas pessoas, temos que muitas delas, na verdade, não conseguem lidar com os limites dos outros. É algo normal dar limites à uma pessoa folgada, porém, muitas pessoas não conseguem fazer. Assim, ao invés de entenderem que o outro é folgado e que elas precisam dar-lhe um limite, terminam por culpar-se e tentar “ajudar” o ouro a mudar. O intuito dessa mudança é, na verdade, uma fuga. Ao invés de aprender a dar limites, essa pessoa quer mudar o folgado.
A fuga do conflito é o que as torna confusas. Aceitar o defeito do outro e reagir ao defeito é mais justo do que tentar mudá-lo. Porém, se não sei como lidar com o defeito do outro, isso pode se tornar difícil. Aí começam as fantasias de “medo do conflito”. O medo doo conflito, muitas vezes, é, simplesmente o desejo de que o outro mude para que não ter que lidar com ele.
A origem desse desejo pode estar em uma auto estima mal formada, na arrogância de se achar melhor que os outros (logo nunca darei bronca em ninguém, sou melhor que isso), incompetência social e em percepções de relacionamento que não são funcionais. É importante para a relação permitir o defeito do outro. Também é importante deixar este defeito claro assim como a sua reação à isso.
Trocando em miúdos é simplesmente o fato de mostrar ao outro como você lida e pensa com o defeito que ele tem. Se o outro é ciumento e você não gosta disso, por exemplo, pode deixar claro que não vai ficar se explicando por situações que ele considera perigosas.Este fato deixa claro que o outro pode ser ciumento, mas que você não precisa assumir a responsabilidade por algo que é dele.
Ao contrário do que parece este é o sinal de amor que tantos precisam. Não se trata de ser egoísta e não levar em conta as necessidades do outro. Pelo contrário, é assim que a pessoa consegue ver aquilo que realmente precisa ver. Do contrário um fica alimentando a neurose do outro o que não é nada saudável e, por isso, um sinal torto de “amor” (melhor seria chamar co-dependência).
Abraço