– Agora entendi o meu problema Akim.
– Perfeito.
– Como eu faço para me livrar dele?
– …
– Não é para me livrar?
– É como se você tivesse encontrado algo dentro do seu armário. Você finalmente o achou e agora quer jogá-lo fora.
– Entendi… é meio estranho isso, mas entendi.
É comum desejar viver sem problemas. Porém, quando os tomamos dessa forma olhamos apenas para o lado ruim de ter problemas. A realidade é que vivemos sempre com problemas. Então, como olhar para eles e não torná-los um peso à mais?
Boa parte dos meus clientes, quando chega à alguma conclusão sobre si faz a pergunta: ok, como me livro disso? É interessante refletir sobre isso. Você passa um bom tempo de sua vida buscando compreender algo sobre você e quando percebe, quer jogar fora. Porque queremos jogar nossos problemas fora?
Perceber-se com um “problema” é perceber-se incompleto ou incapaz de algo. Perceber um entendimento errôneo sobre si, o outro ou o mundo. Em geral, quando se trata de questões humanas o “problema” tem a ver com alguma coisa (percepção, atitude, entendimento) que nos fecha para a vida, nos limita. Não queremos ser assim. Queremos ser perfeitos e ilimitados, bons em todos os sentidos.
Assim, o problema surge não apenas com seus efeitos sobre nossa vida, mas, também, como uma mancha em nossa auto imagem. As pessoas pensam: “ahá, agora encontrei o que me impedia de ser perfeito… agora “a coisa vai””. Mas ela já estava indo, não estava? É difícil reconhecer que mesmo com “problemas” a maior parte de nós “toca a vida”. Culpamos o problema pelas nossas infelicidades e quando o vemos, o queremos fora.
Porém, ele não surge por acaso. Ele não é uma possessão demoníaca que nos invade sem pedir permissão. Ele faz parte de nós. Sem ele, provavelmente não teríamos construído outras partes nossas. O “problema”, apenas é um problema por questão de contexto e objetivos na maior parte dos casos. Quero me abrir, logo a minha timidez se torna um problema. Mas os anos que passei lendo, quieto, nos quais a minha timidez me ajudou, eu não conto.
Assim, sempre busco conscientizar as pessoas das conexões que “o problema” tem em sua vida. Assim como as oportunidades que ele traz consigo. Um problema sempre traz consigo as soluções. O que precisamos fazer é parar de querer nos livrar dele e aceitá-lo. Acolher o problema significa se tornar humilde para o fato de que não somos – e não seremos – “perfeitos”, portanto temos e sempre teremos problemas, seja de origem interna ou externa.
Esta atitude de acolhimento do problema é o que busco criar com meus clientes. Algo como quem diz: calma, você não é o primeiro e nem o único com isso. Diferente de ser negligente e tentar tapar o Sol com a peneira, olhar para o problema requer coragem. Dizer-lhe: “obrigado por estar me mostrando coisas que preciso para estar bem comigo mesmo”, requer humildade e a força verdadeira, que emerge do esforço empregado para conquistar algo e não da arrogância ou prepotência.
Este tipo de atitude nos ajuda a ficarmos calmos em termos um problema. Além de calma, aprendemos a ter gratidão pelo que virá quando resolvermos o problema. E se não o resolvermos, a gratidão virá por compreendermos nossos limites. Paz, gratidão, conquista, força. Essa é a sequência que nossos problemas podem nos oferecer quando lhes damos um lugar de honra em nossas vidas. Humildes frente ao grande mistério que é viver e ser humano é o que nos tornamos quando eles fazem parte de nós ao invés de serem algo contra nós.
Abraço