– Mas e como que eu vou saber se eu quero isso ou não?
– Você não sabe?
– Não! Como vou saber?
– Não sabe ou tem medo em dizer o que sabe?
– Talvez o segundo.
– Então você sabe!
Como responder uma pergunta como essa? Em geral as pessoas começam buscando coisas para fazer e experimentar. E em geral terminam tão ou mais confusas do que quando começaram. Como, de fato, responder o que quero de minha vida?
Ultimamente confunde-se “o que quero” com “o que gosto”. Para a maioria absoluta da população estas duas frases são sinônimos. Mas não são. Aquilo que gosto tem a ver com prazeres. Aquilo que quero nem sempre tem a ver com isso. Pelo contrário, o que quero pode não ser prazeroso e nunca ter nada a ver com este tipo de sensação. O querer é diferente do gostar. Esta é a primeira diferenciação importante que deve ser feita para se compreender aquilo que se quer de fato.
Uma viagem à um lugar paradisíaco, por exemplo, é muito prazerosa assim como um jantar. Porém se o que você realmente quer é estar em outro lugar com uma pessoa especial ou fazendo algo diferente, todo este prazer será insosso. Será prazeroso, mas não é o que você quer. Esse e vários outros exemplos ilustram a diferença entre os prazeres e o querer. Recentemente fiz o Caminho de Santiago na Espanha. Lá você passa por muitas provações: cansaço, dorme em albergues, tem que carregar peso todos os dias, sol, chuva e frio. Mas, porque eu fiz se há tantas provações? Porque eu quis acompanhar minha esposa nessa aventura.
Outro ponto é saber que você já fez escolhas em sua vida tomando por base algo que realmente queria. Todos conhecemos a sensação de querer algo. Ela se destaca das outras. Em geral, liga-se ao que é importante e referente ao eu. Busque em sua memória momentos em que você fez escolhas nas quais optou por algo que não era totalmente prazeroso, rápido ou fácil, mas mesmo assim era algo que você queria. O importante não é o que você escolheu em si, mas sim a sensação do querer. Tome vários exemplos como esse e verifique a semelhança na sensação.
O eu evolui. Em termos daquilo que quero, isso significa que o querer também pode se modificar. Assim sendo é importante prestar atenção ao desânimo. Esta emoção nos alerta para verificarmos se ainda vale à pena mantermos nossa energia em determinada atividade. É comum temer o desânimo, pois se o ouvirmos poderemos ter que enfrentar a pergunta: “o que eu quero?” novamente. Em geral não gostamos muito dessa pergunta porque ela nos gera angústia, porém, quem não sustenta a angústia, não desenvolve o seu querer.
A tristeza é outra emoção importante. Ela se refere aquilo que nos é importante e que perdemos ou deixamos para trás. Sendo assim, constantemente ela nos fala sobre algo que queremos ou que pode fazer parte do nosso querer. Estar atento à ela nos ajuda a manter a honestidade em relação ao que é importante e isso ajuda a determinar o que queremos. A sensação de ânimo é importante também, porque quando tocamos aquilo que queremos o ânimo se instala. Ele não trata de alegria ou felicidade, mas sim de energia disponível para a ação. Quando se faz algo que se quer, o ânimo aparece.
Isso tudo se refere à saber diferenciar aquilo que quero daquilo que não quero. Este crivo é importante. As pessoas geralmente buscam fora de si o seu querer. Vão atrás das coisas para experimentá-las e escolher. O querer não é um buffet de sorvete, é uma decisão que nasce dentro de si. Sempre digo aos meus clientes que o querer não é rápido, ele é lento, pois nasce fruto de um processo. Se prestarmos atenção ao processo vamos realizar no mundo aquilo que temos em nós. Se não prestarmos, poderemos fazer coisas muito interessantes e prazerosas, mas não necessariamente, aquilo que queremos.
Abraço