• 8 de dezembro de 2021

    Amor, o maior dos problemas

    – Mas meu pai não me entende.

    – Exato.

    – Exato?

    – Sim. Ele não o entende. Então, qual o problema?

    – Eu queria que ele entendesse?

    – Não é isso?

    – É… pensando bem é.

    – E te dói ver que ele não entende e mesmo que o fizesse, provavelmente não concordaria com você.

    – Sim.

    – Então, lhe dói ver que está “sozinho” nessa?

    – Sim…

    Muitos clientes, quando tratam das relações com pessoas importantes, falam sobre raiva, medo, infelicidade e mágoa como os problemas mais dolorosos. Porém, nem sempre isso se mostra verdadeiro, essas emoções, embora importantes, muitas vezes são apenas a superfície de um problema muito maior: o amor.

    Falar do amor como um problema é chocante em nossa sociedade. “All we need is love”, cantam os Beatles, mostrando que ele é solução e não problema. Porém os versos adocicados das músicas de amor, não falam sobre tudo o que o amor é capaz de fazer. Quando pensamos na expressão “crime passional”, temos algo relacionado à paixão e ao amor que o expulsa dessa categoria de emoção “soft”. O amor, meus caros pós românticos, mata, segura, e impede a vida de continuar plenamente. Ele não é, como diz a expressão: “apenas flores”.

    Porém, não se trata de mostrar o amor como um vilão, longe disso. Tratar do amor como “o maior do problemas”, como diz o título do post, significa olhar para sua dinâmica de uma maneira mais ampla que aquela oferecida pelo romantismo. Raiva, medo ou mágoa são emoções importantes. Porém, no contexto de um relacionamento afetivo, elas, em geral, vem após o amor. Não é difícil compreender que dificilmente ficaríamos magoados com alguém se não amássemos essa pessoa.

    O problema mais profundo quando ficamos com raiva de alguém é: como lidar com o amor e a raiva ao mesmo tempo? Em relações afetivas, principalmente naquelas que são importantes, este é sempre o dilema. Então vem o problema do amor. Pois se ele é pequeno ou cego, tendemos a ser românticos e sofrer por amor. Se ele se torna maior, se ele enxerga o outro e seus próprios limites, então amamos verdadeiramente. Amar dessa maneira, no entanto, exige de nós. Nos faz perder a inocência e enfrentar a realidade.

    Por exemplo, muitas pessoas tem o anseio em se abrir com seus familiares. Porém não o fazem. Dizem que não o fazem por temer uma reprimenda ou porque seus familiares não dão tanta atenção. Então a pergunta: qual o problema com isso? A verdadeira questão reside em: eu gostaria que aqueles que amo não me dessem limites ou me dessem mais atenção que eu recebo. Essa é a dor verdadeira. Uma dor relativa ao amor. Este também é um amor pequeno. Ele não consegue ver, por exemplo, que cada um dá aquilo que tem. Nem todos – mesmo os que amamos – vão sempre concordar conosco.

    O amor maduro, que nos faz crescer, olha para este fato. Ele não pretende receber mais atenção do que recebe. Ele compreende o limite e aceita. Ama, dentro desses limites e não fora deles. Não ama no ideal, ama no real. Nesse sentido, amar se torna algo “menor”, pois está ligado diretamente à realidade e não aquilo que “deveria ser”, ao ideal (e, afinal de contas, quem define o ideal?). Porém é “menor” e real. Este amor de fato cria as coisas tal como podem ser criadas. Sem conformismo, mas com os pés no chão. Então o amor passa a ser solução e não mais problema.

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