– E foi daí que eu fiquei pensando no que eu fiz até hoje.
– E em que conclusão chegou?
– Eu vi que não estava fazendo nada de bom. Não que eu não tenha feito nada legal na minha vida, mas é que…
– Que?
– Que eu não fiz algo por mim.
– Ok. Agora a pergunta importante: o que você vai fazer com isso?
– Pois é, não sei… fiquei pensando no que eu fiz sabe?
– Sim. E eu gostaria de te convidar para pensar no que você vai fazer.
– Pra mim sempre foi difícil fazer isso entende?
– Sim, por isso mesmo.
Queremos entender o passado. Entramos em terapia e o entendemos. Perfeito. O que fazemos agora? Passado resolvido, o que nos resta? O futuro. Muitas pessoas fazem grande confusão entre entender o passado e construir o futuro, tomando um como sinônimo do outro. Infelizmente a coisa não funciona assim.
A psicoterapia tradicional aprendeu a focar no passado. A premissa é que olhando para o passado compreendemos o presente. Esta premissa é válida para muitas situações, obviamente, porém ela não é um referencial estático para tudo o que ocorre em nossas vidas. Muitas vezes nosso comportamento presente distingue-se do passado em detrimento de uma motivação nova que surge. A adolescência é um exemplo de como o comportamento passado nem sempre é a melhor referência para o comportamento futuro e presente.
Além disso, existe outro fator importante entre o passado e o futuro. O passado é dado, o futuro é possibilidade. Enquanto podemos “saber” o que aconteceu no passado, não podemos fazer o mesmo com o futuro. O passado pode ser compreendido (e existem muitas formas de “entender” o passado), o futuro, por sua vez, é construído. Dizer isso não é apenas estabelecer um jogo de palavras, mas sim mostrar que o comportamento entre estes dois tempos são diferentes. O passado é interpretativo, serve como referência, o futuro exige ação, pois ele será construído.
Assim sendo, muitas pessoas desejam criar o futuro refletindo sobre seu passado. Não funciona. Obviamente existem situações em que a pessoa repete no presente comportamentos passados que são inadequados para construir o futuro. Este é um dos casos em que é necessário mudar a relação que a pessoa mantém com o passado. Porém, em muitos outros isso não se faz necessário. Em outros casos o grande “problema” é que a pessoa não consegue olhar para o futuro, arregaçar as mangas e começar a construir. É uma atitude diferente e ousada em relação à contemplar o passado “imutável”.
Olhar para o futuro exige tomar decisões também. Enquanto o passado é reflexivo, ou seja, permite várias interpretações, o futuro não permite. Não é possível ir para a praia, campo e dar uma passadinha na cidade ao mesmo tempo. É preciso definir para onde se deseja ir e ir. Assumir a responsabilidade em relação aos meios e formas de chegar nesse futuro também é uma tarefa de “olhar para frente”. Essas são atitudes importantes que nem sempre as pessoas tem. Assim sendo torna-se mais seguro olhar para trás.
Muitas vezes a dificuldade é ainda outra. Alguns se apegam ao passado. Um cena que define suas vidas e frente à qual não se sentem aptos, merecedores ou interessados em deixar para trás. Nesse caso o passado não define apenas o futuro, ele define a essência da pessoa. Manter-se no passado é dizer não à vida, pois ela acontece no presente e segue em direção ao futuro. Assim sendo é importante sempre saber olhar em ambas as direções de maneira saudável: o passado como referência e aprendizado e o futuro como construção do “por vir”. Assim os tempos se integram ao invés de competirem entre si.
Abraço
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