• 5 de julho de 2013

    Superproteção

    – Mas eu não posso deixar ele assim!

    – Deixar ele como?

    – Triste do jeito que está!

    – O que você quer fazer?

    – Quero tirar isso dele você não entende?

    – Entendo… mas me diga, porque ficamos tristes?

    – Ele não pode se sentir desse jeito!

    – Aparentemente pode, tanto que está… porque ele está se sentindo assim?

    – Porque a boba da namorada dele não volta com ele!

    – E o que fez ela terminar com ele, em primeiro lugar? Lembra do que você me contou?

    – Mas ele é meu filho!

    – Pois é, e fez uma bela porcaria com a namorada que, de forma muito saudável, terminou com ele.

    – Saudável?

    – Sim, ele tratou ela como lixo na festa ficando com a amiga dela enquanto namorava com ela. E depois disso ainda quis dar uma de bonito e dizer ficava com as duas se aquilo incomodava ela. Bem… me parece que ele fez uma escolha e ela outra… me diga: você não acha saudável o seu filho estar triste?

    – Como assim? Ele não deveria estar assim!

    – Claro que deveria: ele perdeu algo importante para ele. Perdeu porque não soube cuidar e agora está triste… quem sabe ele aprende algo com isso?

    – Mas e eu? O que eu devo fazer?

    – Bem, você, em primeiro lugar poderia começar deixando os problemas dele com ele… afinal, ele já está com 16 e pode começar a lidar com isso sozinho. Em segundo, acho que está na hora de começar a ter um pouco mais de vida própria e deixar seu filho viver a dele…

    Alguns empresários, são centralizadores e não conseguem delegar tarefas, não conseguem relaxar enquanto veem sua empresa crescer e, muito menos, pensar em tirar uma férias da empresa. Para muitos pais é assim também: acham que devem estar presentes em todos os momentos da vida dos filhos resolvendo todas as dificuldades o tempo todo. Nada mais mortífero para a formação de uma criança.

    Proteger é algo importante e normal, significa não permitir que um dano seja causado à alguém que não sabe como se defender. Superproteger significa não permitir que a pessoa aprenda a se defender, desqualificar suas tentativas de auto-proteção e desencorajar suas iniciativas de auto-expressão e de exposição. Superproteção não é saudável porque não protege.

    Pais superprotetores geralmente não acham que o são. É quase um vício. Negam o tempo todo até que o mundo começa a se manifestar e mostrar que o filho não foi bem criado, que é mimado demais e precisa de ajuda de verdade. Em geral tendem à culpar a escola e a sociedade por não perceberem o quanto seu filho é “especial”, mas na verdade não conseguem enxergar que a pessoa não possui comportamentos adequados para viver em sociedade.

    Para a criança superprotegida a vida também é complicada porque ela, aos poucos, começa a perceber que o lugar que ela tem na vida dos pais é um lugar muito além do que se pode ter fora e sentem-se desprotegidas e ameaçadas com isso – e com razão. Embora deseje mudar não encontra na família um ambiente adequado para isso visto que suas tentativas de mostrar independência são, geralmente, minadas pelos pais – ou por um dos pais – que o torna dependente do pai para agir por ele.

    É importante que tanto o filho quanto os pais – ou o pai – assuma o compromisso de crescer e de vencer a angústia de separação que o crescimento envolve. Em geral são pessoas um tanto solitárias ou muito dependentes que precisam de afeto desesperadamente, mas buscam dá-lo e recebê-lo de uma forma que é muito dolorosa de ser mantida: ao custo da própria identidade.

    Neste trabalho reconhecer a dependência de um pelo outro assim como o amor que existe por detrás disso é importante, ao pai saber como lidar com a ansiedade de separação e ao filho como lidar com o medo da responsabilidade. Também é importante desorganizar as desqualificações relativas aos movimentos de independência do filho e encorajar uma retomada de vida próprias dos pais. Quando as pessoas se abrem para este trabalho o resultado final é muito belo, pois como o amor já existe, tudo o que fazemos é construir uma forma mais saudável de ele ser demonstrado.

    Abraço

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