– Percebi o que, de fato, me fez começar a terapia.
– O que?
– Eu queria alguém que se importasse comigo, de verdade… queria tanto isso que poderia até mesmo pagar por isso.
– Nossa… isso parece algo muito forte e muito pesado não é mesmo?
– Sim… na verdade… era algo pesado, mas acho que não é mais.
– Não?
– Não… quero dizer, claro que é né? Mas acho que o fato de eu ter percebido isso e poder estar aqui falando isso para você mostra que não é mais, entende?
– Sim, entendo sim.
(Silêncio, terapeuta e cliente olham-se durante algum tempo)
(Cliente fala)
– Acho que não preciso mais vir aqui por causa disso.
(Terapeuta coloca um sorriso no rosto)
– Ah é?
– Sim, encontrei alguém para se importar comigo o tempo todo.
– Quem é?
– Sou eu.
Muitas pessoas percebem que vivem suas vidas desejando agradar os outros… e sempre se frustram com isso. O que fazer?
Um dos caminhos que muitas pessoas seguem é tentar cada vez mais ser perfeito, mais rico, mais culto, mais descolado, mais belo… acabam sempre onde começaram: frustrados e ansiosos.
Alguns, mais ousados, buscam encarar a morte. Morte? Sim, a morte das expectativas, das ilusões que possuem. A expressão “ninguém está vindo” resume esta atitude. É quando a pessoa percebe, de fato, que não há ninguém vindo para salvá-la, ninguém vindo para torná-la mais feliz, ninguém vindo para cuidar dela: ela está – na condição de ser – sozinha.
Obviamente que existem “coisas” como cuidar do outro, ser ouvido por alguém, ter uma pessoa que nos entende. O propósito deste post não é negar a empatia, a sociabilidade e a compaixão, mas sim evidenciar que a experiência de sermos quem somos é vivida somente por nós. Não podemos “copiar e colar” algo da nossa experiência em outra pessoa – e mesmo que pudéssemos, o sistema operacional dela iria ler o arquivo de um forma própria.
Desta forma, enquanto a necessidade de ser cuidado por outro se mantém, a pessoa não conquista a sua vivência de si. Enquanto o foco é ser aceito no grupo a pessoa busca pelo grupo e não por si própria. Enquanto deseja que alguém se importe com ela, ela ainda não está fazendo isso. É como vi no facebook de um colega estes dias: “ninguém me dá autonomia”. De fato, ninguém nos dá a nossa autonomia, ou a criamos ou não a teremos.
E este é o caminho que percebo como a metáfora mais adequada para o dilema de agradar aos outros x ser você mesmo. Não creio em “descobertas interiores” como se algo estivesse ali esperando por você, busco ajudar meus clientes e buscarem em si as ferramentas – isso é o que creio existir “dentro de nós” e então, com elas, “criar” a si próprio. Não entendo que há um eu esperando para ser resgatado, mas sim elementos para criarmos algo – no caso, “nós mesmos” – e ver os resultados desta criação.
Esta perspectiva assusta, porém liberta. Não há certo e errado aqui, apenas o que vai passar a existir e os resultados que isso trará. Não há garantias, porém não existem cobranças também. Tudo o que se foca é no processo e em estar íntegro com ele. É como o pintor em frente à tela branca: ele possui dentro de si tudo o que precisa para criar nela uma pintura, mas a pintura em si não existe, ela começa a existir quando pintor busca o que há dentro dele e no mundo e com isto criar algo. Não há certo ou errado no que vai existir na tela, apenas o que vai existir na tela.
O contraponto disto seria o pintor, de posse de toda a sua bagagem ficar à espera de alguém que entre na sala e lhe diga o que pintar. Obviamente, uma vez ou outra isso pode ser útil e até agradável, porém, ao longo de uma vida valeria isso à pena?
O que você está pintando na sua tela? Escrevendo em seu livro? Esculpindo em sua pedra? Tecendo em seu tear?
Abraço
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