– Não mudou nada ainda!
– Hum, pelo que você me contou eu tenho que discordar, mas mesmo assim te pergunto: você sente que nada mudou?
– Sim, me sinto o mesmo otário de sempre.
– Entendi, o que te faz ter esta sensação?
– Eu acho que por ter entendido o que se passa eu já deveria ter mudado as coisas: deveria fazer diferente na minha relação, deveria dar uns limites para a minha família e deveria estar mais forte no trabalho.
– Entendi, no entanto, uma vez que você não está fazendo tudo isso, será que não podemos perceber o que você está fazendo, mesmo que seja menos do que a sua expectativa imaginava?
– É difícil pra mim isso.
– Eu sei, eu sei.
Rapidez. Ao mesmo tempo um benefício e um malefício do mundo pós-moderno.
Mudar, criar novos hábitos de comportamento e de atitude mental é uma atividade que requer um determinado tempo, mas a pergunta é: quanto tempo? À princípio não dá para saber. Porque não? Porque muitas vezes ao entrarmos numa questão outras aparecem atreladas à ela e estas questões “secundárias” são mais complicadas de serem mudadas. Algumas pessoas possuem mais dificuldades que outras numa mesma questão, por esta razão o tempo que usam para fazerem mudanças é maior ou menor, pois os ajustes necessários para que a mudança ocorra são mais fáceis ou mais difíceis de serem negociados.
O tema que acho importante é: não se cobre por estar indo “devagar”. Caso você deseje se cobrar utilize o critério “desleixo”. Funciona assim: uma coisa é você fazer algo de forma lenta porque é difícil para você manejar uma dada questão, outra coisa é você abrir mão e deixar de lado mesmo podendo trabalhar com a questão; à isso damos o nome de desleixo. Um exemplo simples de terapia é dar limites: a pessoa entendeu que precisa dar o limite, surge uma situação mais simples que possibilita à ela dar o limite, mas a pessoa simplesmente deixa tudo como está e finge que nada aconteceu, isto é desleixo. Ela poderia ter feito, mas não faz. O que é muito diferente de tentar dar o limite e não conseguir, por exemplo, ou dar um limite de uma forma desajeitada ou se incomodar para dar o limite, tentar falar algo e não conseguir, que é apenas o “avanço lento”.
Em terapia costumo dizer que a pessoa pode escolher entre duas coisas: mudar rápido ou mudar com qualidade e peço para que ela escolha. Na verdade esta é uma pegadinha porque quando se foca na qualidade a velocidade vem por si só. As mudanças não são “coisas”, são resultados de um processo, portanto quando focamos no processo o resultado começa a vir “por si” e aí temos a velocidade das mudanças. Isso é algo que foi modelado de todas as pessoas que conseguem realizar mudanças de forma rápida em suas vidas, elas não focam no resultado em si, elas sabem onde querem chegar e depois disso esquecem a meta e focam em tudo o que precisam fazer para alcança-lá. As pessoas que ficam muito tempo focadas no tempo acabam ficando ansiosas e esquecem do processo que vai direcioná-las para o fim, com isso terminam se perdendo no meio do caminho e diminuem o ritmo.
Uma questão final é a pergunta: o que é uma “mudança rápida”? Isso é algo complicado de se responder porque cada ser humano é único, assim sendo como podemos criar um parâmetro? Além de cada um ser único ainda temos que levar em consideração que para esta mesma pessoa algumas coisas são mais fáceis e outras mais difíceis, portanto, para algo mais simples ela pode mudar mais rapidamente, enquanto para uma mudança que envolva coisas mais difíceis ela possa demorar mais. O que fazemos geralmente é comparar a nossa velocidade com a de outras pessoas o que é um engano e um processo muito doloroso; engano porque não somos iguais aos outros, portanto a comparação fica sempre à desejar – e se o outro estivesse na nossa pele, teria conseguido? – doloroso porque sempre que nos comparamos tendemos à sofrer com isso – porque eu não consigo se ele consegue? lembre-se de que mais importante do que mudar rápido é saber o que se está fazendo, quando entendemos isso o “rápido” vem por si só.
Abraço
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