– Bem, tá aqui o que você me pediu: o texto que eu estou querendo escrever.
– Deixe-me ler.
– Ok.
– Hum, o texto está muito bom, muito bom mesmo. Porque você está inseguro em relação à ele?
– Não sei ao certo… não parece que está bom.
– Bom ele está. Agora… era isso o que você realmente queria dizer?
– Como assim?
– Onde está você neste texto aqui? A sua expressão sincera sobre o tema dele?
– (silêncio) Fica estranho se eu te disser: você me pegou?
– Claro que não, o que isso significa para você?
– É que eu… bem, eu tenho umas ideias, mas elas nunca foram populares sabe?
– Sei
– Com o tempo aprendi a escrever para mim e para os outros.
– Ah… olhe que coisa, este texto aqui?
– Para os outros.
– Pois é meu caro e quando você vai colocar você para os outros?
– Aí é que é o difícil.
– Mas é aí que vai nascer a sua confiança de fato no seu trabalho! Se você não se coloca de verdade, como vai confiar no que escreve?
Muitas pessoas são altamente competentes, mas sentem-se despreparadas como se não fossem “boas o suficiente”.
Tenho acompanhado estas pessoas e um dos temas que tem aparecido muito é a relação entre a confiança e a auto expressão, vamos falar sobre isso?
Expressar o nosso desejo é uma fonte importante de auto confiança. Enquanto não expressamos quem somos da forma que achamos que devemos não saberemos o impacto que esta forma de ser terá e isso mantém uma dúvida perpétua: “será que…”. Esta dúvida destrói a auto confiança. Pior é quando a pessoa faz algo bem feito, como ser um bom profissional, por exemplo, mas não da forma que ele acha que deveria ser, aí então ele tem os resultados, mas como não foram expressados da forma que ele acha adequada ele termina por não crer no resultado que possuí. Não porque o resultado não seja bom, mas porque não foi feito da forma que ele acha que deveria, portanto a insegurança não está sobre aquilo que ele fez, mas sim sobre aquilo que não fez. Uma dúvida encoberta.
Confiança tem a ver com termos ou não domínio sobre uma competência ou um saber. Quando temos a percepção e aceitamos que sabemos algo conseguimos desenvolver confiança em nosso comportamento, em competências e saberes. Quando uma pessoa não sente confiança “nela mesma” a primeira coisa que se deve perguntar é se ela sabe fazer o que deseja. Muitas vezes ela não sabe e portanto está “certa” em não sentir-se confiante, o próximo passo é crer que pode desenvolver as competências e sentir-se confiante uma vez que o faça.
Neste caso que estamos discutindo o problema é que a pessoa não expressa o que deseja. Ao não expressar não consegue saber se está fazendo bem feito, se está dando o resultado que deseja e então ela não sente confiança e, com isso, passa a desconfiar. Geralmente atribui a desconfiança à fatores externos que nada tem a ver com o problema: “não estudei o suficiente”, “não fiz o suficiente” e outras frases que falam do externo e não do problema principal: a falta de auto expressão.
É importante entender que existe uma diferença entre o que ela sabe fazer e expressar o que ela quer. Ela pode ser super competente para expressar o que deseja, porém, não o faz por medo, timidez, vergonha, culpa, por ter uma auto estima baixa – em geral a pessoa tem este problema – por não conseguir assumir a responsabilidade pelo seu desejo, ou por ter medo em fazê-lo ou também por não conseguir se identificar como uma pessoa merecedora daquilo que quer.
Aprender a dar voz ao seu desejo, aprender a colocar no mundo quem somos e da forma que somos é um dos grandes desafios da humanidade. Encontrar este meio, usá-lo e verificar se ele nos traz aquilo que buscamos faz parte do nosso desenvolvimento e bloquear isso sempre traz problemas. A pessoa pode identificá-lo fora dela, porém estão dentro.
Abraço
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