• 17 de fevereiro de 2014

    Choques

    – Ai Akim, não sei o que fazer…

    – Ok… bem… posso te dizer uma coisa?

    – Sim.

    – Mas veja, o que vou te dizer não é agradável e você não vai gostar muito de ouvir. Serei totalmente franco e não vou ter papas na língua, ainda assim o que vou te dizer é para o seu bem, mas preciso dizer de forma enfática. Quero que pense antes de me dar o aval, porque uma vez dado, farei-o sem hesitar, o que acha?

    – Hum… acho que você pode falar sim.

    – Você está certo disso?

    – Sim.

    – Muito bem, aqui vai: “você não sabe o que fazer”. Porém soube muito bem o que estava fazendo quando se envolveu neste caso extraconjugal. Além disso, para que você permitisse que sua mulher descobrisse isso tão cedo, você também sabia o que estava fazendo. Seja franco consigo: você está querendo terminar o casamento, por esta razão permitiu que o caso fosse tão rapidamente descoberto.

    Dou uma pausa enquanto olho para ele de forma séria para ver se ele entendeu o recado. Percebendo que ele estava pronto para ouvir a parte final continuei:

    – Portanto, você sabe o que fazer: deve tomar a decisão entre se vai continuar ou não casado, parar de se enrolar e enrolar a sua esposa e resolver a situação a qual você mesmo criou.

    – Entendi… tenho que pensar nisso mesmo.

    Ele baixa a cabeça durante um tempo, pensativo, depois a ergue e a sessão termina. Na semana seguinte ele liga antes de sua sessão dizendo que havia decidido levar a esposa para uma terapia de casal para que eles pudessem reatar a relação.

    Uma das funções da terapia é acolher a pessoa.

    Outra função da terapia, por vezes, é chocar a pessoa. O choque é algo muito terapêutico quando bem feito porque desorganiza toda a estrutura que a pessoa estava seguindo de uma só vez, esta é, inclusive, a razão do choque em terapia. Obviamente, quando digo “choque” me refiro à algo que, quando realizado em sessão, cria na pessoa um desamparo total de suas defesas psicológicas. Não me refiro à choques elétricos os quais não utilizo.

    Ocorre que todo ser humano quando vem à terapia vem com o desejo de que sua história seja confirmada, é o que chamamos de “paradoxo da mudança” (querer mudar sem que nada mude). Algumas vezes o choque é a melhor forma de burlar este sistema criado pela pessoa. Para ser bem empregado o terapeuta precisa saber exatamente o que está fazendo.

    No exemplo acima, o cliente trazia um comportamento no qual ele vivia se metendo em encrencas para depois se fazer de coitadinho. Em geral as pessoas tendem a querer entender o problema do outro ao invés de ajudá-lo a solucionar os problemas. Numa situação como a dele esse é o cenário perfeito para que nenhuma mudança ocorra. Como já conhecia a dinâmica dele, estava no momento perfeito para eu dar-lhe um belo choque.

    Com o choque a sua defesa foi desmontada, ele percebeu que o coitadinho não teria mais espaço ali e que ele teria que crescer ou crescer. Quando coloquei a situação para ele de forma clara e sem comiseração ele não podia fazer mais nada a não ser tomar uma atitude que lhe parecesse mais adequada. É uma forma mais agressiva de solicitarmos o adulto que a pessoa traz dentro de si.

    E você, como poderia dar-se um choque e convocar logo o adulto que mora dentro de você?

    Abraço

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