• 28 de maio de 2014

    O dedo que aponta…

    apontar4

    • Então Akim, fiquei muito puta com ela!

    • Estou vendo, mas  que aconteceu?

    • Simples assim: pedi para a criatura me ajudar numa mudança que eu precisava fazer. Adivinhe…

    • O que?

    • “Ai, não posso hoje porque estou indo no salão”.

    • Humm…

    • Salão?! AH, pare né? Eu pedindo para ela me ajudar em algo importante e ela “vai no salão”…

    • Entendi… mas… qual o problema?

    • Qual o problema? Cade o companheirismo?!

    • Entendi… algo como “ah Akim, ela queria ajuda para a prova dela, mas eu não estava afim, queria jogar video game naquele momento” ?

    • (silêncio)Tá me dizendo que eu também faço isso?

    • Estou afirmando que você não gosta, nela, de algo que também existe em você, o que é?

    • Hum… acho que sei o que é…

    • Ótimo… me diga o que é e vamos falar um pouco mais sobre isso…

     

    Diz o ditado: “quando um dedo aponta para alguém, três dedos apontam de volta”.

    Este ditado fala sobre uma das defesas psíquicas mais comuns, inconscientes e complexas que temos: a projeção. Rápida, inconsciente e em geral cruel ela vê no outro coisas que desejamos, detestamos ou que temos dúvida e medo… em nós mesmos. Outro ditado que vale à pena é: “pimenta nos olhos dos outros é refresco”. Pois sim, o é. Refresca a nossa auto percepção de afirmar, sobre nós mesmos coisas que não gostamos muito de afirmar. Ou que não temos coragem ou que temos vergonha, desta maneira é mais fácil ver a pimenta coisa nos olhos dos outros quando na verdade ela também está nos nossos olhos. É como quando a pessoa cai na lama e está muito braba com isso, até ver que outra pessoa caiu na lama também, então ela ponta e começa a rir da “elameação” do outro, porém ela mesma já está na lama.

    A crueldade da projeção, à meu ver, é justamente esta falta de consciência de que aquilo que eu aponto eu só consigo fazer por existir, em mim, um pouco – ou muito – daquilo. Assim falo dos outros quando, na verdade, estou falando de mim, porém sem ter consciência disso, acabo apenas falando sobre o outro.

    Podemos falar sobre elementos nossos que não gostamos nos outros. Em geral fazemos julgamentos maldosos e sem nenhum crivo de censura ao falar mal das características que as pessoas tem e sobre aquilo que achamos da personalidade delas. Esse tipo de conduta tem a ver com elementos que a pessoa teme  e/ou desaprova em si. Certa vez atendi uma pessoa que queria que o marido fosse sexualmente menos “devasso”, ela dizia palavras muito duras sobre ele, num determinado momento perguntei à ela o que aconteceria se ele fosse menos “devasso” e ela me disse um tanto surpresa com sua resposta: “aí eu poderia ser mais”.

    Também apontamos nos outros aquilo que desejamos em nós, mas não temos, que achamos que não temos ou que não podemos assumir. É o caso de praticamente todos os pacientes com seus terapeutas – eu com o meu inclusive. Trata-se de quando olhamos para uma pessoa e atribuímos à ela uma determinada característica: “você é muito determinado”, “você  é muito organizado” ou “queria ser como você irreverente”. Quando estamos falando de projeção é porque vemos isso que queremos na pessoa seja ela isso ou não, tratamos de “arranjar provas” de que ela é do jeito que achamos que é e passamos a admirar ela. Muitas vezes quando percebemos que a pessoa não é como queríamos que ela fosse nos decepcionamos com ela.

    Por fim existe a projeção daquilo que sou e admiro no outro. Em termos simples isso significa que a pessoa “vê” no outro aquilo que ela própria já é, mas não consegue assumir e, por esta razão, mantém a característica como se fosse do outro. Muitos líderes são assim “antes de serem lideres”, eles tem o papel, mas não conseguem assumi-lo, tempos depois começam a entender que aquilo que veem no outro é, na verdade, um reflexo dele próprio e com isso passam a assumir a sua própria atitude.

    Lembre-se do ditado: “quando um dedo aponta para alguém, três dedos apontam de volta” e sempre, ao julgar alguém, pergunte-se: o que, de mim, há neste que julgo? Como diz na Bíblia: “atire a primeira pedra quem nunca errou”.

    Abraço

    Visite nosso site: www.akimpsicologo.com.br

    Comentários
    Compartilhe: