– E foi ai que eu tive que dizer para ele o que eu pensava dele sabe?
– Sei sim, e disse?
– Falei tudo.
– O que aconteceu depois?
– Bem, ele ficou quieto né? Tinha que ficar!
– Sei… mas e você?
– Eu? Bom, eu falei o que tinha que falar né? Fiquei aliviada.
– Acredito… um alívio duplo não é?
– Como assim duplo?
– O primeiro de ver ele baixar a cabeça e o segundo de ter se esquivado completamente do que ele falou.
– Ã?
– Você me disse: “ele falou pra mim que a minha impaciência estava acabando com a relação” não falou?
– Sim.
– E que, depois disso, você falou “tudo” para ele e ele ficou quieto não foi?
– Sim.
– Pois é: a melhor defesa é o ataque… você percebe que o atacou?
– Agora pensando…
– E o que te motivou a fazer isso?
– Eu não gosto quando falam da minha impaciência.
– Mas você é impaciente, não é?
– SOU.
– Não seria mais elegante e sincero com você e com a relação dizer algo como: “desculpe”, já que você sabe que ele está certo sobre este seu comportamento?
– Ai… mas isso é difícil…
– Difícil está ficando a sua relação…
– É
Quando um ser sente-se agredido e sem possibilidade de defesa em geral ele tem duas atitudes: fuga ou ataque. No entanto, um ataque pode ser uma defesa disfarçada e vice versa.
Neste caso que eu trouxe, por exemplo, a pessoa estava sempre com muito medo de muitas coisas. Ela era altamente explosiva e temperamental, mas não gostava quando alguém lhe apontava isso. No entanto, era difícil de não fazê-lo. Assim, ela estava sempre no ataque, sempre brigando e “jogando coisas na cara”, “sou sincera, não posso segurar” ela dizia. A questão é que tudo isso era, na verdade, uma defesa para que ninguém falasse dos seus próprios defeitos.
Obviamente ninguém gosta dos seus defeitos sendo esfregados na sua cara, mas existe um momento em que as relações – e a própria vida da pessoa – fazem esta exigência para a evolução pessoal dela. É algo que vai muito além do “esse é o meu jeito, respeite”, é quando a vida diz “esse é o seu jeito, evolua”. Neste caso é muito importante estar atento às reações que temos em relação à atacar ou nos defender.
Em geral estas duas reações são muito importantes quando se trata de um ataque de fato, ou seja, alguém que deliberadamente deseja causar dano em você por qualquer motivo que seja. É saudável saber atacar ou fugir nestas situações para manter a sua integridade pessoal. Porém existem várias outras situações em que ao nos “defendermos” a principal vítima somos nós mesmos.
O caso, de uma maneira geral, recai quando nós mesmos concordamos com o que foi dito à nosso respeito. Muitas vezes as críticas – independente da maneira pela qual foram feitas – atingem o “ponto certo”, ou seja, são verdadeiras e precisam ser respeitadas porque o outro está vendo algo realmente disfuncional em nós, ou que precisa de mais atenção do que damos.
Estes casos, em geral, são aqueles em que a pessoa pode até brigar com o outro e inverter a situação, porém sente-se mal e culpada tempos depois. Em geral, para fugir da sensação de culpa a pessoa “esquece” – o esquecimento tem função altamente emocional – porém mesmo com isso ela se coloca em várias situações nas quais o mesmo “script” se repete por vezes sem fim. Às vezes a pessoa se pergunta “mas será que vai ser sempre assim?”. O pior é que a resposta é “sim” enquanto a pessoa não aprende uma nova maneira de viver a vida e se relacionar ela irá manter o padrão de comportamento – ou “leva sorte”.
Quando a emoção da raiva surgir busque perceber se o ataque ou a defesa são, realmente, necessários neste momento. Verifique se você se sente agredido porque de fato a pessoa está desejando causar-lhe dano ou se essa agressão é interna, ou seja, você não gosta dessa característica em você e, por isso, sente-se agredido quando alguém à percebe. Isso é algo muito comum de acontecer e requer um pouco de desenvoltura emocional para que você perceba que não é o outro, mas sim você mesmo quem se agride neste tipo de situação.
Se este for o caso, de um passo para trás e, quem sabe, um pedido de desculpas pode ser uma forma de “mudar o seu carma”.
Abraço
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