- Akim, fiz uma loucura!
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Ah é? Me conte!
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Lembra que na última sessão eu falei que tinha meio que aceitado que eu não estava mais gostando da minha vida né?
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Sim, lembro sim… depois de uma árdua luta contra a ideia, você cedeu.
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Sim (risos) daí cheguei em casa e pensei: e agora, faço o que?
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O que fez?
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Liguei para uma amiga minha e sai com ela.
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Opa, que coisa boa!
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Boa nada, ótima… deixei de lado a super hiper estudiosa e sai na sexta, olhe só!
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(risos) Já pensou?!
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Então, fui com ela num bar, conversamos, tomei cerveja, depois fui dançar, fiquei com um cara e depois adivinhe o que eu fiz?
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Não sei…
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Depois de tudo isso, eu olhei para ela e disse: “amiga, to querendo ver o sol nascer na praia, vamos?”
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(risos) Ai que ótimo!!
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Sim, e nós duas fomos! Chegamos lá, tomamos uma cerveja vendo o sol nascer e dormimos no carro super farofentas… foi sensacional!
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E o que você aprendeu com isso tudo?
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Que a vida é mais que a minha escrivaninha!
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Bem mais não??
“Nenhum animal é mais calamitoso do que o homem, pela simples razão de que todos se contentam com os limites da sua natureza, ao passo que o homem se obstina em ultrapassar os limites da sua”. Erasmo de Rotterdam
“A pior das loucuras é, sem dúvida, tentar ser sensato num mundo de loucos. Erasmo de Rotterdam
Erasmo de Rotterdam escreveu um belíssimo livro chamado “Elogio à loucura”. Nesta obra o autor nos fala sobre a loucura como fonte de inspiração que leva o homem à sair de sua zona de conforto. Trata de algo que é chamado “louco” no sentido de que sai completamente à norma, ao que é considerado “são” e defende a ideia de que o ser humano precisa da loucura para sobreviver e – mais além – para viver o mundo/ no mundo.
Lembro-se sempre da frase de um querido amigo “o mundo é um hospício à céu aberto”, assim como ele Machado de Assis também falou sobre este tema em “O alienista” e assim como eles vários autores tratam desta ideia de que a loucura é importante. O mais recente que me lembro é no filme “comer, rezar e amar” (não, não li o livro ainda) em que o velho que ajuda a heroína à amar lhe diz que um pouco de desequilíbrio é importante para uma vida equilibrada. Eu simplesmente amei esta frase e durante algum tempo gravei-a no lado de dentro do meu crânio.
O desequilíbrio, por incrível que pareça, não é tarefa fácil. Aprender a deixar-se levar pela “loucura” é uma tarefa que facilmente descamba em algo não produtivo que apenas atordoa a pessoa ao tirar-lhe de sua rotina (sim, também precisamos de rotina). Aparentemente a loucura é bem vinda em momentos nos quais estamos “à beira do abismo”. Quando é isso?
Estes momentos são aqueles nos quais já vimos que a nossa maneira de viver a vida não está nos levando para onde queremos. Aqueles dias em que conseguimos vislumbrar todo o nosso futuro e a sensação mais empolgante que temos é tédio, um tédio mortal que nos convida para dormir e esquecer de tudo. O abismo vem quando não temos mais para onde olhar ou quando aquilo que temos para ver não nos agrada nem um pouco.
E este “não agrada” não é um “simples agrado” no estilo “não gostei”. É mais do que isso, trata-se de uma sensação de “desencontro existencial” quando sentimos que a vida dentro de nós está sendo desperdiçada, jogada fora ou mantida demais no “curral”. Esta falta de agrado é aquela que nos maltrata, que nos mata dia a dia e faz com que desejemos mais a morte do que a vida.
Nestes momentos é que a loucura, as paixões podem ser evocadas de uma maneira muito produtiva: afinal aquilo que se tem à perder não é, em nada, algo que se deseje. Por vezes a loucura nos ajuda a jogar fora aquilo que não queremos mais, outras vezes nos faz afirmar violentamente aquilo que queremos e em algumas situações faz os dois trabalhos. Também acompanhei pessoas que ao se entregarem em dias de loucura foram guiadas por caminhos inesperados – um pouco perigosos às vezes, mas que aventura não é? – e que lhes trouxeram horizontes completamente distintos.
Loucura não é fazer besteira, mas sim permitir-se um momento no qual aquela “boa e velho opinião formada sobre tudo” – a qual todos nós temos – seja substituída por um breve momento de “metamorfose ambulante” que nos transforme e coloque num novo prumo, numa nova ideia, num novo jeito de viver.
Que tal abrir as portas da loucura?
Abraço
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