- Não sei o que falar mais…
-
Porque não?
-
Porque eu estou muito bem. Faz algumas semanas que eu não tenho tido meus problemas usuais.
-
Que coisa boa!
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Sim, me sinto competente nisso tudo, segura sabe?
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Sei sim… mas… porque isso não é digno de nota aqui na sua terapia?
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Como assim?
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Você está me dizendo que está tendo bons resultados, se sentindo forte e segura e “não sabe o que falar”?
-
(risos) É né… verdade… isso, inclusive é um probleminha meu né?
-
Sim, é fato, falar do que tem de bom né?
-
É…
A terapia, em geral, é procurada num momento de dor e angústia, onde a pessoa não sabe o que fazer em sua vida. Quando o processo começa a se desenrolar as pessoas tem vários momentos nos quais “não sabem o que dizer”; estes momentos, muitas vezes, são oriundos de semanas nas quais a pessoa está se desenvolvendo e resolvendo seus problemas. Quando ela começa a fazer isso, todo o discurso que a trouxe para a terapia perde o sentido e ela “não sabe o que dizer”.
No entanto, isso não significa que não há o que ser dito.
Um dos pontos mais importantes – à meu ver – neste momento é exatamente questionar o porque não falar sobre aquilo que está dando certo, mudando e gerando bons e novos resultados. Em resumo: porque não falar do bom? Trabalho muito com esta orientação no sentido de que todo o esforço que a pessoa fez merece ser validado na terapia por ela ao falar dele tanto quanto falou dos momentos ruins.
Além disso, este não saber o que dizer tem uma oportunidade incrível para algo fundamental: criar um novo discurso sobre sua própria vida. Ou seja, quando a pessoa chega à terapia seu discurso reflete aquilo que vive, agora que ela conseguiu fazer mudanças é importante criar um novo discurso para que ela possa usar no seu dia a dia, um discurso mais rico, com mais possibilidades de criação.
Outras vezes este não saber pode ser a necessidade de silenciar um pouco e refletir, absorver o que está acontecendo dentro da pessoa. É importante compreender que não saber o que dizer é diferente de não ter mais o que dizer e nem o que aprender. Assim sendo uma outra maneira de trabalhar com isto é fazer-se a pergunta: e agora, o que eu quero aqui? O que faria sentido para mim aqui?
Questionar-se neste sentido é buscar honestamente em si uma resposta que lhe dê sentido para a terapia, seja ele qual for: terminar porque aprendi o que eu precisava, estou consciente do que aprendi, valorizo o meu aprendizado e agora quero viver sem a terapia até um possível novo momento de aprendizado; pode significar também que aquilo que eu aprendi é passado, minhas questões agora tem que ser outras; pode ser que agora que aprendi preciso saber o que vou fazer com isso…. enfim, como você pode perceber são várias as possibilidades.
A importância desta pergunta é que nada faz sentido se não tiver sentido (não, isso não é tão óbvio quanto parece).
Um terceiro ponto para pesquisar é que “não saber o que dizer” pode significar “não querer dizer nada”. E não querer pode ter a ver com defesas e resistências que a pessoa tem. Isso é importante de ser investigado porque o silêncio tem muitos significados – mais do que as palavras. E neste caso é necessário manter a terapia assim como manter a pessoa engajada ajudando-a a perceber o seu processo e o seu próprio silêncio.
Abraço
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