- Mas e daí? O que você está me dizendo é que não importa se meu pai me quer ou não?
-
Na verdade sim. Porém não é se ele “te quer”, mas sim se ele “te aceita”.
-
E qual a diferença?
-
Bem, aceitar é uma coisa, querer é outra. A primeira tem a ver com percepção e a segunda, com o desejo.
-
Hum… mas e daí, se ele não me aceitar, então, o que eu tenho que fazer?
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Isso: fazer sozinho. Ele não vai ser o único a não aceitar características suas sabe?
-
Como assim?
-
Você vai viver isso várias vezes na vida: não ter características suas aceitas.
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Hum… é complicado isso.
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É meio chatinho mesmo… porém libertador.
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Porque?
-
Já que você sabe que será não aceito… o que tem que fazer?
-
Me aceitar sozinho né?
-
Pois é… este é o primeiro passo… sempre!
Um dos temas fundamentais em terapia é a aceitação. Aceitar é dar valor de existência à algo que existe em nós, seja este “algo” um comportamento, uma emoção, um desejo ou um pensamento.
Em geral o tema se apresenta no pedido de que o outro me aceite: “queria que meus pais me aceitassem” ou “quero ser aceito pelas pessoas”. Então as pessoas passam a relatar todo o trabalho que tem para alcançar este fim: agradam os outros, são gentis com os outros, engolem sapos pelos outros e não conseguem a tal aceitação.
O problema central desta estratégia é que “fazer pelos outros” não é algo que garante aceitação. Quando faço algo por alguém posso estar garantindo que eu gosto de fazer coisas por aquela pessoa, mas isso não tem nada a ver com ela aceitar minhas características (a não ser, esta de fazer pelos outros). A frustração e decepção são sempre enormes, porém infundadas visto que a estratégia escolhida não alcança a meta proposta.
A questão é que para algo poder receber o valor de existência, precisa, primeiro, ser demonstrado. Se eu não mostro minha tristeza, por exemplo, como poderão aceitar que eu estou triste? Se não mostro minhas qualidades, como podem aceitá-las? No entanto, para fazer isso é necessário que eu mesmo aceite aquilo que existe dentro de eu mesmo. Assim sendo a tal da “auto aceitação” é o fundamento da aceitação do outro. O mais interessante é que, quando eu aceito aquilo que há em mim não existe mais necessidade do outro aceitar. Esse é, inclusive, o referencial que eu uso para compreender que a aceitação realmente ocorreu.
A não aceitação das nossas características pelos outros torna-se, a partir daí, um problema para o outro e não mais para nós mesmos. É aquela situação em que a pessoa lhe diz que não gosta daquilo que você faz e você diz que sabe disso e entende. Você “aceita” a percepção de negação do outro, embora não precise concordar com ela. Isto faz com que as relações cresçam em qualidade porque começa a “obrigar” o outro a buscar a aceitação. Quando uma das partes não se aceita e precisa da aceitação do outro ela está pedindo para existir e ninguém pode fazer isso por ninguém.
Aceitação envolve percepção de seu comportamento, de seus pensamentos, de seus desejos e emoções. Ninguém pode fazer isso por você, podem até apontar, porém você precisará focar a sua atenção no que os outros apontam. A aceitação muitas vezes se torna difícil por causa da auto imagem que temos de nós mesmos. Muitas vezes aquela imagem que temos de nós fica tão forte que não conseguimos ver o que “realmente” há por debaixo dela, ou o que mais há junto com ela. Aquilo que “sai da regra” é colocado de lado.
Aceitar-se, por outro lado, pode ser duro para a auto imagem. E esta é outra habilidade que a pessoa deve conseguir ter: aprender a suportar as suas incoerências internas. Esse trabalho requer maturidade para ver aquilo que não considero “eu” como parte de mim e dar valor de existência à isso. Requer sabedoria para conseguir integrar esta nova porção recém-descoberta de si à sua auto imagem expandindo-a, mudando-a. E se isso tudo se somar à noção de que poderemos ser nós mesmos enquanto incorporamos elementos que não reconhecemos como “eu” estaremos indo numa direção de muita riqueza pessoal.
Abraço
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