- Estou com medo.
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Hum, do que?
-
Daquele menino que estou saindo sabe?
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Ã… sei sim…
-
Porque “ã sei..?”
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Porque será? Você sabe, não sabe?
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… eu to gostando dele… não queria…
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Porque?
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Porque eu já me fudi muito com isso!
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Nem me fale, eu sei bem disso…
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Então!
-
Então o que? Qual o problema? Não tá aqui inteira?
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… Ai… sei lá…
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Que tal ir lá e ver como vai ser… usar a tua terapia para te ajudar caso precise? Ao invés de ficar temendo uma pessoa que você foi à anos atrás?
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Ai… tá… eu sei… não acho que estou gostando dele por acaso… acho que tá na hora de sair do casulo… mas me dá medo
-
Quem disse que não ia ter?
-
É… ninguém…
“Amor é a ferida que só pode ser curada pelo mesmo bálsamo que causa a ferida”. Bill Moyers
Amar é perigoso? Sim, é.
Acho importante começar este post sendo sincero. Amar não traz garantias de nada, não resolve nada, não cria nada. Amar é – como disse um poeta – simplesmente amar. Porque amar? As dores do amor são tão grandes, as decepções tão dolorosas e a insegurança que vivemos tão profunda que… para que amar? Várias pessoas já passaram pelo meu consultório com esta dúvida cruel que se torna insuportável quando a pessoa além de ter a dúvida ainda sente dentro dela… amor.
Em geral nos defendemos de amar com argumentos variados os quais, no entanto, se resumem no seguinte: dor e segurança. Trocando em miúdos: porque amar se posso me machucar? Porque amar se o amor do outro não é garantido?
A primeira ideia trabalha com a nossa noção de auto proteção, ou seja, o problema do amor é justamente que estou aberto à ele, sem defesas – ou, pelo menos, com menos defesas que o habitual. Ao estar aberto à amar, estou vulnerável e posso ser facilmente machucado. Este argumento traz, consigo a seguinte refutação: o problema é o afeto ou a relação que traz problemas consigo? Ou seja, o problema está no amor ou nas atitudes de uma ou outra pessoa? Em meu consultório sigo a ideia de que o problema não é o amor, mas sim o como amo.
É possível estar aberto e entregue e, ao mesmo tempo, sentir a dor de uma decepção, ser ferido e se curar. O “controle” está em nos ocuparmos de nós quando isso ocorre. O afeto do amor pode permanecer, mas a rotina da relação não. Isso é o que nos dói de fato. Aquilo que mais dói no final de uma história é a história que não poderemos mais contar. Assim sendo o afeto do amor não é, em si um problema, mas sim a “competência” com a qual entramos neste jogo.
O segundo pressuposto que fala da segurança trata da ideia de que ao se abrir a pessoa deseja receber algo em troca disso: a certeza de que será respeitada e “ressarcida” em sua entrega. O problema com esta ideia é que o amor e o amar não são uma relação de compra e venda na qual está pressuposto que o dar envolve um receber. O ato de amar não é um mercado. É um ato de entregar e quando entregamos, damos. Nos damos ao amor, nos entregamos ao amor e ao amar.
Novamente a questão da vulnerabilidade se instala e a pessoa busca esta segurança, esta compensação: “bem, já que eu fiz isso, pelo menos…” Mas não funciona assim, esta não é a regra do amar. Se o que você quer é segurança, faça um seguro, não ame. Segurança se confunde com certeza neste contexto e certezas é tudo o que o amar não oferece. Oferece sim muitas aventuras e oportunidades, muitas dúvidas e desafios, porém a ideia de conforto e segurança, num prazo longo matam a sensação de amar.
O problema desses argumentos em relação ao amor é que eles buscam no amor e no amar algo que este não tem à oferecer. Se ele não tem à oferecer, como pode-se buscar isso nele? É como ir numa pizzaria e querer comprar lá uma BMW, não tem isso lá. Mas então, como lidar com o desejo de amar, com o sentimento de amor. Porque amar, se amar é algo tão inseguro e tão complexo?
Bem… porque não?
Toda vez que entramos num jogo de futebol, por exemplo, sabemos que um ganha e o outro perde. Isso não nos impede de jogar. A questão fica assim: o amor não me dá o que eu achava que ele deveria dar… devo, então me afastar do amor? Não. Não necessariamente pelo menos. Quem sabe brincar com ele, jogar o jogo e aprender com ele algumas coisas?
A filosofia trágica trabalha com a noção de aceitação da vida. Tal como é. Não se deve negar o horror da vida ou tentar maquiá-lo para parecer mais palatável aos nossos sentidos. Não, a vida é isso: trágica, dura e horrível. O amor é duro, trágico e horrível também. A pergunta que coloco é: porque não amar mesmo sendo isso algo que pode nos machucar? Medo de se machucar? Mas a vida também oferece isso, então, não vamos viver? A pergunta sobre o amor é injusta à meu ver porque tentamos colocá-lo como algo que deveria atender às nossas pendengas afetivas, mas isso é muito mesquinho. Ele é o que é com todo o doce e todo o amargor.
O amor machuca? Sim. Porque amar então? Porque não? Porque não ir mesmo assim e afirmar esta realidade? Isso é o trágico: a afirmação daquilo que há. Tanto o doce e belo e prazeroso e extasiante quanto o horrível e destrutivo e nojento. Quanto mais dizemos “sim” a experiência do amor – seja ela qual for – mais podemos nos apaixonar por ele, mais podemos viver e aprender com ele tal como é, sem as nossas ilusões de como ele deveria ser e mais com a realidade do que ele é.
E é aí que temos em Coríntios que o amor nada sofre, não se ensoberbece e não conhece a dor. O amor é o amor a “outra coisa” é a experiência que temos das nossas relações. O amor é algo além disso, amar é algo além disso, mas é nesta experiência que conhecemos – por seremos humanos – a dor, a ganância, a soberba, mas o amor, em si é algo além porque ele engloba tudo isso, ele não é apenas uma coisa ou outra, mas sim todas elas.
Para nós, humanos, a maior proximidade que temos com isso é quando escolhemos o amor em nossas vidas. A escolha é o que nos tira da atenção que damos aos “sobes” e “desces” da roda da fortuna e nos coloca em contato com o centro dela. É o verdadeiro sentido do voto de casamento “na pobreza e na riqueza, na saúde e na doença eu escolho “você”. “Você” é o meu centro, quando optamos pelo amar e pelo amor nós o tornamos o centro de nossas vidas, nós nos conectamos com ele e daí sim, amamos.
Bem… é o que eu vivo…
Abraço
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