• 12 de dezembro de 2014

    O que fazer?

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    – Pensei e entendi que o melhor para mim.

    – Ótimo, e o que é?

    – Melhor ficar de fora sabe?

    – Sei.

    – Mas não sei direito se é isso que eu quero fazer.

    – Entendi, o que te motiva ao sim e ao não?

    – Não porque eu não sei ao certo se eu dou conta do recado e sim justamente por causa disso, para eu aprender.

    – Hum… me parece que vai ter que optar entre o comodismo e a aventura.

    – Pois é… o que eu faço?!

    “O que eu faço?” Essa, talvez, tenha sido uma das perguntas que eu mais escutei em consultório. É uma das perguntas que eu ouço meus colegas sempre relatando também. Em geral ela vem junto com um pedido às vezes explicito, às vezes não, de que o terapeuta diga à pessoa o que fazer. Comum também é a reação da maior parte dos terapeutas à maior parte destas perguntas que é uma reação de um novo indagar ao invés de trazer uma resposta.

    Crueldade?

    Não. Ocorre que a resposta para a pergunta “o que fazer?” não se trata de uma resposta no estilo “certo/errado” à qual um técnico bem preparado deve dar uma resposta, mas sim no estilo “motivação/objetivo/escolha” na qual o “técnico” deve ajudar a pessoa a se conduzir na criação de uma resposta própria. De outra forma: existem perguntas “o que faço?” que se referem à um protocolo pré estabelecido e rígido, é o caso, por exemplo de uma operação em um sistema operacional de computador. Neste caso o técnico deve informar qual caminho seguir, pois esta é a sua função. No caso da vida humana a questão é de outro nível e, embora a pergunta formulada use as mesmas palavras, ela não se refere ao mesmo tipo de reposta.

    Quando se fala em motivação, por exemplo, a pergunta se refere ao que move à pessoa à resposta da pergunta. A motivação, de uma maneira básica, tem dois movimentos: aproximação e afastamento. Assim a resposta para uma mesma situação se a motivação for “afastamento” será diferente do que se a motivação for “aproximação”. Exemplo: “ir ou não em uma festa?” se eu quero me aproximar de pessoas a resposta pode ser “sim”, se por outro lado a motivação foi afastar-se de pessoas pode ser “não”.

    Porque “pode”?

    Pois existem outros elementos, como o objetivo. Eu posso querer me afastar de pessoas, porém meu objetivo é aprender a ter relações interpessoais. Logo, a resposta pode vir à ser “sim”. Além daquilo que nos motiva existe também aquilo que queremos e, embora pareça a mesma coisa, são elementos distintos. A motivação tem a ver com o como fazemos para desejar algo e em prol do que desejamos aquilo, o objetivo tem a ver com a meta a ser alcançada. Assim eu posso estar motivado a me aproximar de mais saúde e ter como objetivo corrida, academia, até mesmo aulas de yoga ou tomar vitaminas como complemento alimentar.

    O último fator é a escolha. Pode-se ter vários elementos alinhados de uma determinada maneira, porém no final a escolha e execução sempre farão a diferença. A pessoa pode simplesmente escolher não fazer ou não fazer naquele momento, ou até mesmo escolher fazer algo completamente distinto de tudo o que pensou anteriormente. O motivo, o objetivo e a escolha precisam se estruturar de alguma maneira para o “o que fazer” seja concretizado. É comum pessoas definirem todo um plano de ação e resolverem fazer o contrário “para ver o que ocorre”, por exemplo.

    Desta maneira quando alguém pergunta “o que fazer” o “técnico” não pode dar uma resposta “certo ou errado” sem avaliar todos estes elementos e ainda pelo fato de que avaliá-los não quer dizer que existe “uma” maneira correta de se fazer algo. O que se pode avaliar é apenas a probabilidade daquilo que será feito dentro de um determinado contexto ser mais ou menos provável de gerar uma determinada resposta e mesmo que não se consiga atingir a resposta ainda assim pode haver aprendizagem e isso pode ser benéfico para a pessoa.

    O que fazer então?

    Abraço

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