• 11 de fevereiro de 2015

    Informações perigosas

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    • E ele fez Akim! Ele sabia que eu ia ficar braba com ele!

    • Como ele sabia?

    • Ah… tem que saber essas coisas né?

    • Hum… não me parece que ele deve ter que adivinhar que você tem uma rixa antiga com a sua prima.

    • Mas Akim… eu ajo diferente com ela! Será que ele não percebeu?

    • Talvez o contexto da festa tenha ajudado ele a não perceber não é?

    • Você quer me dizer que eu tinha que ter dito à ele que não gosto da minha prima?

    • Claro. Porque não?

    • Porque… Ah… sei lá, ele tem que perceber essas coisas… isso é parceria. Ele foi muito sacana comigo.

    • Em geral ser gentil com parentes do seu conjugue é um sinal de respeito e não de “sacanagem”, como ele não tinha a informação de que você tinha uma rixa com sua prima, como ele poderia saber que isso seria um desrespeito?

    • Ele não tinha que saber?

    • Só se ele tiver uma bola de cristal. Agora, qual o seu problema em falar?

     

    “Porque eu tenho que dizer para ele(a)?” Ouvi muitas vezes essa pergunta no consultório e já a fiz algumas vezes na minha própria vida pessoal. Este post é para esta pergunta que sei que muitos leitores também devem fazer.

    Nossa cultura tem como ideal de um relacionamento o amor romântico, porém este “romântico” já foi deturpado ao longo dos anos e transformado em um depósito sem fim de expectativas irrealistas. A expectativa da “leitura mental” é uma das mais comuns. Ela pressupõe que o conjugue tem o “dever” de saber como você está se sentindo e como está pensando. Obviamente, uma armadilha visto que até hoje não se conseguiu quebrar o que chamamos de “privacidade do mental”.

    Isto em geral é confundido com a experiência de empatia em que duas pessoas sentem-se muito próximas e conseguem “saber” o que o outro está pensando. Ledo engano, neste tipo de experiência não se tem acesso ao mental do outro, o que ocorre é que o casal experimenta uma empatia muito forte de modo que a imitação do comportamento se torna tão sinérgica que ambos sentem a mesma coisa, porém essa sensação é produzida individualmente. Em termos chulos é como se eu comesse um morango junto com outra pessoa e dissesse: você está sentindo algo ácido e adocicado em sua boca?

    Quando percebemos esta falácia é que entendemos que aquilo que sentimos, desejamos e percebemos deve ser comunicado caso desejemos que o outro saiba como se portar com nós. A falta da informação resulta de que o outro não pode ser culpabilizado pelos seus atos. Se, por exemplo, você percebe que alguém está um pouco mal e pergunta para a pessoa se ela quer ajuda e ela diz que não, ela está assumindo a responsabilidade por isso. Caso ela piore não poderá culpabilizar você pelo fato de não ter ficado próximo à ela. A escolha de ficar ou não é influenciada pela informação de estar ou não mal e desejar que o outro esteja por perto.

    Em geral, o que fazemos? Ao invés de ser claro em nossos desejos e expectativas agimos como se nada estivesse acontecendo apenas para depôr contra o outro quando ele “pisar na bola” – visto que como ele não sabia que iria fazer isso, não pode ser responsabilizado por isso. Isso é um sinal, inclusive, de baixa auto estima: não se perceber merecedor de colocar de maneira clara aquilo que deseja e precisa, enfim, de impôr limites.

    Auto estima envolve o cuidado consigo. Dizer “não” ao outro, demonstrar suas necessidades e feridas afim de organizar de solicitar cuidado é um sinal de que você percebe que pode e deve ser cuidado além de cuidar-se. É como se você soubesse que pode falar porque você sente que merece a atenção e cuidado dos outros. Sabe que o outro lhe tem apreço e afeto e, por esta razão, deve ser informado sobre como proceder com você e, assim, que souber, irá realizar o comportamento de maneira adequada ao invés de feri-lo. Sem a informação o outro pode até escolher algo que machuque a pessoa, porém não pode ser responsabilizado, ele pode pedir desculpas caso seja uma pessoa muito empática, porém não culpa.

    Você fala sobre o que te machuca ou fica esperando os outros te machucarem para se afastar deles depois?

    Abraço

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