• 23 de fevereiro de 2015

    Sobre atuar

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    • Sinto como se eu estivesse preso sabe?

    • Sim. Quem prendeu você?

    • Não sei…

    • Será que você está realmente preso?

    • Não… é só jeito de dizer…

    • Sim, é claro, porém, se você não fosse o “preso”, quem você poderia ser nessa situação?

    • Sei lá… eu poderia ser o livre!

    • Hum… como livre, o que você poderia fazer que o prisioneiro não pode?

    • Eu poderia escolher fazer alguma coisa!

    • E você não pode?

    • Posso… eu acho…

    • Que escolha, então, você faria que você não está fazendo ou nem sequer cogitando em fazer?

    Ter relacionamentos é um fato inequívoco na vida de todo ser humano. Não há como não se relacionar da mesma maneira que não há como não se comunicar. O cérebro humano é uma “máquina” de criar relações, com outros seres humanos, com o meio ambiente, com ideias e sensações que vem de dentro do próprio corpo humano. Um tema que é importante dentro de uma relação é: quem sou dentro desta relação?

    Este tema nos leva à questão do papel e da identidade da pessoa frente à relação. A identidade é uma característica interessante de ser estudada porque ela pode assumir várias facetas em contextos diferentes. Assim, sempre que estou trabalhando com um cliente a pergunta “quem é você em relação à” é uma constante.

    É importante a pessoa perceber “quem é” quando pensa em si, no seu papel profissional, no seu relacionamento com filhos e conjugue, na sua família de origem e mesmo frente à um determinado problema. A maneira pela qual a pessoa de identifica quando pensa nas situações que vive faz muita importância em relação à como ela percebe o problema, a situação e ao que ela irá se permitir fazer nessa situação.

    Por exemplo, quando uma pessoa diz “me sinto presa nessa situação”, ela pode estar se identificando como um prisioneiro. Ora, se ela é um prisioneiro, quem é a situação? O carcereiro? A prisão? O juiz que a colocou na prisão? Enquanto a pessoa se percebe como um preso é importante refletir se ela tem culpa em estar presa, ninguém deveria ser preso por acaso. Se ela está presa e está cumprindo pena, de quanto tempo será esta pena? A metáfora da identidade que a pessoa se dá frente às situações a faz refletir em uma ou em outra direção, assim, é importante refletir se a metáfora é adequada. Será que “preso” é realmente o que está acontecendo com você? Alguém te prendeu ou você escolheu mal?

    Isso porque questionar a identidade com a qual entramos numa determinada situação é questionar, também, o nosso papel dentro dela. Papeis são definidos pelas funções que a pessoa desempenha. Assim, a cozinheira – que é a identificação e o papel – é aquela que cozinha. Pode-se ser cozinheira de várias maneiras distintas, porém a essência permanece. Ao questionarmos o papel questiona-se o que a pessoa faz, a maneira pela qual ela age na sua vida.

    Ao questionar o papel da pessoa, questiona-se, também, o papel do outro e da situação. Afinal se o meu papel me dá uma função, o papel do outro também tem uma função, atribuída por mim. Em outras palavras, se eu me percebo como o prisioneiro na situação, a situação é meu carrasco e a função desta situação é me manter preso – muitos casamentos funcionam assim, por exemplo. Porém, se me torno uma pessoa “livre”, posso escolher o que faço e aí, a situação também, muda, ela pode tornar-se, por exemplo, um desafio evolutivo, um professor ou até mesmo um colega. Muito mais interessante relacionar-se com um colega do que com um carcereiro.

    Que papel você se dá nas várias áreas e relações de sua vida? Que papel atribui ao outro e às situações?

    Abraço

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