- Mas daí eu fiquei muito chateado, não se faz isso sabe?
-
O que você fez com isso?
-
Ainda nada, mas vou sair fora do curso.
-
Entendi (seguido de silêncio)
-
Não tem mais nada a dizer?
-
Não, me parece que você tomou uma decisão, deve saber o que está fazendo não é?
-
Não é assim… é que eu acho que ela foi longe demais com aquele comentário.
-
Você acha ou tem certeza disso?
-
Não se fala assim com as pessoas!
-
Pode ser, você acha ou tem certeza de que ela passou dos limites?
-
Ah tá… sei lá até certo ponto sim, mas às vezes acho que é só raiva minha mesmo.
-
Pode ser também. Você quer que eu te ajude com algo nesta escolha ou apenas está me informando sobre ela?
-
Não sei ao certo… estou um pouco confuso sobre o que senti e não sei se devo ao certo sair do curso.
-
O curso não está lá para agradar você em tudo o que você quer, muito menos a professora. Já pensou nisso?
-
É… sei lá…
Vivemos em uma sociedade de consumo. Uma das regras fundamentais deste tipo de sociedade é viver sem que exista contato com a frustração e muito menos com a insatisfação. O resultado? Pessoas que não sabem lidar com uma realidade da vida: de que as coisas nem sempre dão certo do jeito que a gente quer.
Não, não significa que você fez algo errado, que tem que fazer alguma coisa, que deve montar uma ONG para isso não acontecer à outras pessoas e nem recorrer aos altos escalões. Muitas (muitas mesmo) vezes uma frustração e uma insatisfação é somente um limite do mundo real para você.
Fugir da insatisfação é fugir desta percepção. Vivemos num mundo carente de segurança, a emoção da insatisfação e da frustração tornam-se um tanto intoleráveis nestes tempos justamente por causa disso. Porém aprender a lidar com estas emoções faz parte de inteligência emocional de todos os seres humanos. É necessário que se aprenda a se frustrar, falhar e sentir insatisfação para que a pessoa aprenda a crescer.
O que tem de bom nisso? A pergunta é inadequada e típica de uma sociedade de consumo que pensa apenas no que vem de bom a partir de uma determinada escolha. A questão com a insatisfação é justamente esta: não virá nada de bom. O que você não queria, não aconteceu e ponto. E isso “o que vem de bom”, este é “lucro” que você pode tirar desta lição. Aprender a não ter. Aprender um papel que é típico aos mortais: o da falta de onipotência, em outras palavras, saber que você não poderá tudo, não conseguirá tudo.
Não saber lidar com isso pode afastar a pessoa de desafios importantes porque ela não deseja sentir a insatisfação, também afeta as relações entre as pessoas que cada vez mais ficam carregadas de necessidades à serem supridas e cria uma perspectiva falsa sobre a vida que promete que apenas coisas boas devem acontecer. Isso não é verdade. A vida é, sim, feita de perdas e frustrações também ignorar isso é fingir que uma parte da vida não existe.
É importante frustrar as pessoas, dar à elas insatisfação e um pouco de perdas nesses dias. Acho que estas emoções nos ajudam a perceber melhor a nossa humanidade justamente porque nos coloca em contato com o sentimento de potência e não de impotência. Daquilo que é possível e não do que é impossível.
E você, ainda achando que nunca terá nenhum revés?
Abraço
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