- Daí o que acontece? Fico todo sem saber como agir!
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Não sabe como agir frente à que?
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Não sei se retruco, me defendo, se saio, se xingo
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O que te faz não saber qual a melhor alternativa?
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Não sei…
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Qual a tua expectativa frente à resposta que vai dar?
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Eu quero sempre que seja uma resposta muito foda! Que termine de vez com o assunto.
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Hum… e se, por acaso, não conseguir?
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Daí sei lá… fracasso total.
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Algo do tipo, ou respondo perfeitamente ou sou um retardado que não sabe se portar no social?
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Exato!
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Não acha meio exagerado isso? Uma necessidade de acertar tudo sempre?
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Agora que você falou… parece meio assim né?
O problema de ideais é que algumas vezes eles não nos ajudam, pelo contrário, nos atrapalham. Quando que um ideal atrapalha?
Quando a ideia é tão exigente que aprisiona a pessoa e a deixa sem respostas para lidar com o cotidiano é o parâmetro que eu uso. Um ideal não me parece útil quando aprisiona a pessoa ou a deixa sem poder agir em situações simples. Na verdade a função do ideal é ajudar a pessoa a construir respostas, mas quando este ideal é muito extremista ele perde esta capacidade.
Neste sentido o ideal passa a ser uma ilusão, uma fantasia e essa fantasia passa a prejudicar a pessoa. Fantasias como essa tem a ver com a formação da pessoa e o desenvolvimento de sua personalidade assim como o seu lugar em família e nos grupos de que participa. Ninguém mantém uma fantasia que a prejudica à toa. Em geral, aprendemos na família que ela é “real” – no contexto da família a pessoa pode ser reforçada a agir de determinada forma, porém esta forma pode perder-se ao longo do tempo dentro da própria família ou, com certeza, no mundo.
Nossa civilização judaico-cristã padece de três tipos de ilusões que afeta muitas pessoas. Estas ilusões são a onipotência, onisciência e onipresença. Sim, você conhece pessoas que querem saber de tudo, querem poder tudo e querem estar em todos os lugares ao mesmo tempo. E o pior: se cobram disso. Ora, quando um ser mortal se cobra poderes de seres mitológicos e divinos a coisa se complica.
A onisciência, poder de tudo saber, em geral pretende colocar a pessoa num patamar em que ela nunca tomará uma decisão errada, nunca irá pensar errado, ou seja, em geral, traduz-se como uma defesa contra a possibilidade de errar. Mas quem não erra, não aprende. Assim sendo a pessoa que se previne de tomar decisões erradas também se previne de viver uma vida mais aberta e de aprender muito com sua experiência. Nem é preciso dizer que em geral ela não confia na sua própria experiência e torna-se dependente de estudos técnicos para “saber”.
A onipotência tem a ver com a capacidade de conseguir tudo. É o ideal da pessoa que diz que com ela tudo se resolve, que ela irá sempre conseguir resolver algum problema. A fantasia neste caso previne contra o fracasso e o que isso significa para a pessoa. Alguém com um histórico de pais muito poderosos ou muito fracassados pode seguir este tipo de ilusão buscando sempre um ultra sucesso e se cobrando por conseguir coisas que não são possíveis.
A onipresença que é o poder de estar em todos os lugares ao mesmo tempo surge da necessidade de tomar decisões. Ao invés de eu tomar uma decisão e aceitar um limite – no caso o físico – de estar em um só lugar, pretendo estar em vários lugares atendendo à vários compromissos. Em geral a dificuldade é de dizer não e de escolher um determinado grupo/atividade em relação à outra, a pessoa não sabe elencar prioridades para ela e busca, então estar presente em todos os lugares. Fórmula de fracasso iminente.
Aprender a ser realista e entender que não é possível saber tudo e que, por isso, aprender é necessário; que não se pode estar em todos os lugares e por isso é importante aprender a priorizar e, por fim, que ninguém tudo pode e que, por isso devemos saber onde investimos nossas forças e aprender a lidar com fracassos e frustrações é fundamental para uma mente mais realista. Note que por realismo não digo pessimismo de achar que não se consegue nada, não se sabe de nada e que nada é possível – o oposto das três ilusões citadas acima que é tão enganoso quanto elas – mas sim de adequar nossas capacidades humanas limitas ao mundo que vivemos. Obviamente as pessoas podem ousar se tornar mais competentes, porém sempre com a noção de que mais competência é, ainda, um outro limite.
Abraço
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