• 30 de março de 2015

    Procrastinação e dependência

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    • Não sei mais se quero.

    • Entendi… imaginei que você poderia sentir-se assim.

    • Porque?

    • Porque você acha?

    • Não sei…

    • Eu acho que você deve ter, no mínimo, um palpite.

    • (silêncio) Eu acho… que… não queria mesmo antes.

    • Sim… continue

    • Eu meio que disse… para ver…

    • O que?

    • O que você ia achar.

    • Sim… mas será que não é o que você acha o que realmente conta?

    • Deveria ser…

    • O que torna isso difícil para você?

    • Não consigo decidir de verdade… me sinto… fraco… daí fico sempre pulando de uma escolha para outra sabe?

    • Sim.

     

    Muito se fala em procrastinação, várias são as teorias e explicações sobre o comportamento. Uma das que tenho percebido em minha prática clínica é a ligação entre procrastinação e dependência.

    O ato de procrastinar pode, muitas vezes, estar aliado à uma identidade dependente que espera por alguém que venha lhe ajudar a realizar algo, dar “apoio emocional” (entendido pela pessoa como garantia de sucesso), fazer por ela ou simplesmente estar do seu lado (para ela não sentir que deve bancar só o seu próprio desejo).

    Nathaniel Branden tem uma frase que usa com seus clientes e que eu adotei para empregar nestas situações: “ninguém está vindo”. Ou seja, não se pode esperar por alguém que virá lhe salvar do seu próprio “destino” – sua vida. É interessante notar que a pessoa faz uma defesa contra a identidade dependente em muitos casos. Assim embora esteja aguardando desesperadamente por suporte ela se percebe e tenta agir como uma pessoa independente, super bem resolvida e que não precisa de ninguém.

    É importante a pessoa estabelecer uma conexão concreta com a realidade e com os seus próprios desejos. A procrastinação é uma atitude muito mental e é muito fácil perceber a pessoa se perdendo em pensamentos e devaneios, criando mil e uma explicações para o porque fazer e o porque não fazer, o que deve ser feito ou não, criar planos e desculpas. Desta maneira usa-se muita energia mental neste sentido e pouca no sentido da realidade, da concretude do que de fato fazer e do que de fato não fazer. É no ato de realizar que a procrastinação termina.

    Junto com isso aprender a lidar com o próprio desejo também se faz necessário. Muitas vezes procrastinar significa não saber direito aquilo que se deseja, em outras não saber dizer “não” ao que não se quer. No caso da dependência a pessoa não sabe ao certo como formatar o seu desejo e sustentá-lo, daí busca apoio e enquanto não o acha posterga-o. Fantasias de onipotência são comuns para ajudar a lidar com a angústia gerada pela percepção daquilo que a pessoa diz querer e não realiza.

    Se você procrastina pergunte-se se não está esperando por alguém vir e te ajudar. Essa pessoa não virá. Que tal você começar a se ajudar?

    Abraço

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