– Eu não sei o que devo fazer.
– Não sabe? Mesmo ou tem medo de dizer o que pensou?
– Bem… eu… eu não sei…
– Me diga o que pensou.
– Eu não sinto que ele realmente gosta de mim sabe?
– Sério? O que motiva essa percepção?
– É que… ele presta muito mais atenção nas coisas do que em mim…
– Entendi… o que você pode fazer com esta percepção que tem dele?
– Posso sair com ele algumas vezes e ver se é isso mesmo?
– É uma opção, o que te parece?
– Parece que eu sou um otário sabe? Que eu já sei e que tenho que ir lá para verificar.
– Entendo… Mas se você for lá e verificar, de que maneira isso pode ser positivo para você?
– Bem… se eu realmente constatar eu posso me afastar dele, agora se ele não for assim eu posso ir lá e “ser feliz” (risos)…
– Sim, acho que de uma forma ou de outra você vai aprender e vai poder usar esta experiência no seu futuro não é?
– Sim.
Todo ser humano percebe o mundo de uma determinada forma. Esta percepção é a base na qual será construída a auto confiança da pessoa assim como sua auto estima. Aquilo que é percebido e a maneira pela qual é percebido constrói o mundo interno da pessoa, o mapa mental dentro do qual ela elabora o que é o mundo, o que são as pessoas, no que é bom, no que é ruim assim como percebe e fantasia o resultado de suas ações.
Esta percepção, no entanto, pode, muitas vezes ser alvo de chacota ou até mesmo de repressão. Os estudos de Paul Watzlavick à respeito da comunicação humana nos mostraram que toda mensagem que é enviada pode ser aceita, negada ou invalidada. A invalidação pode causar sérios danos à constituição psíquica da pessoa. Negar é se opor, ou seja, é dizer: “não concordo”. Neste caso existe a aceitação da mensagem e a discordância, mas a mensagem é ouvida. A invalidação nega a existência da mensagem, classificando-a como um “não-algo”.
O problema é que este “não-algo” é a base com a qual a pessoa percebe o mundo. Sem isso a pessoa passa a desconfiar de sua própria percepção o que é um problema gigantesco porque tudo o que ela viverá depende, inicialmente disso. “Desconfiar da própria sombra” é uma das expressões que tem a ver com isso. Não é uma desconfiança do outro, mas sim do próprio pensar, sentir e agir. É quando a pessoa teme agir, pensar ou sentir porque à todo momento tem a impressão de que percebeu algo errado ou de que não está percebendo alguma coisa ou então que tem algo faltando à sua visão de mundo.
Uma das repostas comuns é tentar organizar-se a partir do ponto de vista de outras pessoas. Funciona como uma muleta que ajuda a pessoa a ser aceita no grupo e funcionar um pouco a partir das expectativas de terceiros. Porém quando a pessoa começa a desejar sozinha teme o próprio desejo ou então a ação que concretiza o desejar. Com isso a pessoa aceita a versão de que sua percepção não é adequada e passa o tempo todo buscando organizar-se pelo olhar alheio assim como interromper a sua própria percepção de si e do mundo.
Aprender a perceber com seus próprios olhos é fundamento para que você possa desenvolver sua auto estima. Aqui reside, inclusive, o grande problema. Em geral o medo que se tem de assumir o próprio ponto de vista nestes casos é imenso, pois houve toda uma educação baseada em não validar esta percepção. O medo é do erro, do abandono, de perder o lugar e vários outros que se fantasia como uma forma de defesa. O medo como defesa? Sim. Se a percepção que tenho é errada, ela se torna perigosa, então tenho que me defender dela, como julgando que terei prejuízos – de alguma natureza – se eu seguir aquilo que meus olhos veem.
No entanto o erro está aí, a fantasia foi criada para defender a pessoa de algo que não vai agredi-la, mas sim de algo que não era compreendido ao longo de sua educação. A percepção não é errada ela apenas não foi validada. Aprender a validar, inicialmente, significa enfrentar este medo e buscar realizações com base na sua própria percepção. “Errar” ou “acertar” não devem ser transformados em problemas que impeçam isso, mas sim em aprendizados: nenhuma percepção é completamente certa e nenhuma completamente errada, assim sendo o que todo ser humano faz são ajustes naquilo que percebe ao longo de sua vida com base em suas experiências.
Tem medo daquilo que pensa e sente? Que tal usar isso para fazer alguma coisa e ver o que acontece?
Abraço
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