• 6 de maio de 2015

    Controle e amor

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    • Eu amo ela!

    • Eu sei. Não estou descrente disso.

    • Então…

    • O que estou questionando é o tipo de resultado que a sua forma de amar atinge.

    • Como assim?

    • Você mesmo me disse que é a terceira mulher com que você tem relação que acaba do mesmo jeito.

    • Sim!

    • Elas te dizem: “estamos sufocadas, não conseguimos viver com você assim”.

    • Então… elas não entendem o meu jeito de amar.

    • Eu acho que elas entendem sim, quem parece não entender é você mesmo.

    • O que eu não entendo?

    • O que ela dizem: você sufoca!

    • Então eu devia deixar elas mais soltas?! É isso?

    • Pode ser um começo não acha?

    • (Silêncio)

    • Como você se sentiria em deixar elas “soltas”, algo como não ligar para elas quatro vezes ao dia como você diz que faz.

    • Mas como eu fico sem saber como elas estão? O que fizeram?

    • Boa pergunta!

     

    Na história do amor – ou daquilo que chamamos de amor – muitas vezes temos o embate entre o amor e o medo, o ciúme e o controle. O grande problema destes embates é que todos os seus antagonistas são como o deus asgardiano Loki: eles vem camuflados de amor, quando suas pretensões são, na verdade outras.

    O que torna a confusão possível? O fato da pessoa que “ama” de fato sentir um apreço e valorizar o outro. Assim suas iniciativas possuem uma tônica de afeto, mesmo que construído em bases diversas. A base é o fundamento, como se percebe a base? Em primeiro lugar checando onde a pessoa quer chegar com os seus comportamentos e o que ocorre se esta finalidade não se cumprir.

    É muito comum que as pessoas digam “faço porque amo”. No entanto, esquecem-se de que existem diversas maneiras de “amar” e que cada uma delas provoca resultados bem distintos para as pessoas envolvidas assim como para a relação. Refletindo sobre isso, podemos pensar no caso citado acima, onde um dos comportamentos era de ligar quatro vezes ao dia todos os dias para “saber da pessoa”. Ora, “importar-se” é aceito culturalmente como um comportamento ligado ao ato de amar e importante para um bom relacionamento. Porém, o tornava este “importar-se” um comportamento que “sufocava” as pessoas?

    Podemos perceber que existe uma frequência rígida do comportamento: quatro ligações diárias, todos os dias. A intenção declarada era de “saber como as pessoas estavam”. Porém quando pergunta-se o que acontece se ele não faz as ligações, temos a indagação “como que eu fico sem saber?”. Existe, aqui, uma grande diferença entre uma coisa e outra. O comportamento visa, na verdade, algo que ele quer para si: informações sobre o que elas estavam ou não fazendo. A real intenção do comportamento e criar um roteiro diário delas para que ele possa controlar as ações que elas tem. Quando não fazia isso ou quando elas não atendiam as ligações a emoção resultante era de ansiedade e angústia.

    Desta maneira o ato de “se importar” tornava-se o ato de “controlar”. Através de uma atitude à princípio carinhosa a pessoa organizava uma lista das coisas que o outro estava fazendo e mentalmente estruturava uma rotina. As ligações passavam a ser um “follow up” desta rotina mentalmente criada. Qualquer comportamento fora da linha seria uma afronta.

    O que motiva este tipo de comportamento? Inúmeros fatores podem ser “a causa”. Muito embora não gosto de usar esta expressão. Prefiro entender isso como uma dinâmica que a pessoa usa ao invés de pensar em termos de causa-efeito. Existem vários fatores que contribuem para que este tipo de dinâmica ocorra: baixa auto-estima, ter tido relações na infância com os pais de muitas brigas e hostilidades que tornam a pessoa insegura em relação ao afeto, não saber dar limites, ter limites muito rígidos, falta de maturidade emocional e muito medo em relações.

    Todos estes componentes organizam diversas dinâmicas cujo objetivo fundamental é de “prender” o outro. O apego, capacidade de estar vinculado à alguém, é confundido com estar preso à alguém. Esta “prisão” não é clara, mas sim obscura. Ela se mostra na tentativa de minar qualquer comportamento que mantenha a pessoa livre, solta e espontânea. Sensação, esta última, que é sempre um motivo de medo quando a pessoa não sabe ser assim ou não sabe como lidar com a espontaneidade do outro. Por esta razão, busca controlar.

    Espero que o artigo tenha ajudado você a compreender melhor quando o “amor” tem “agendas secundárias”.

    Abraço

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