Talvez um dos aprendizados mais importantes que as pessoas podem ter em terapia é que elas contribuem para os resultados que estão tendo em suas vidas.
Aprender isso significa aprender a se responsabilizar. A responsabilidade não é sinônimo de culpa, mas sim de uma reação de causa e efeito sobre o que a pessoa fez e o resultado que isso lhe trouxe em determinado contexto. Embora você possa dizer: mas isso é meio óbvio, a a verdade é que usei este tema em praticamente todos os atendimentos que fiz. Porque?
Ocorre que aquilo que está dando errado em nossas vidas nem sempre está muito consciente para nós. Agimos no piloto automático do aprendizado que tivemos ao longo da vida. Assim as contribuições que damos para a nossa própria tragédia, neste sentido, nem sequer são percebidas por nós, fazem “parte do jogo”.
A teoria dos jogos ajudou muito a compreensão de dinâmicas familiares dentro da psicologia. Compreender que cada um dos componentes de uma família faz parte de um jogo (chamado família ou “dinâmica familiar”) nos ajuda a buscar compreender o sentido do comportamento de cada uma das pessoas. Aí é que a coisa se torna divertida porque ao invés de analisarmos apenas um indivíduo isoladamente, o vemos dentro de um sistema. Aquilo que a pessoa faz tem implicações para ela e para o grupo.
Então é que a pessoa que é a mais prestativa pode, por exemplo, ser a pessoa que está guardando um segredo da família. Ela carrega a família nos ombros, mas isso não faz bem nem para ela e nem para a família que permanece dependente dela. Esta dependência, é, por outro lado, a força que essa pessoa tem porque, sem isso, imagina que a família poderia se desintegrar e ela terminar sozinha. O dilema que ela vive é o de nunca ter tempo para si, estar sempre preocupada com os outros, porém enquanto ela mantém o segredo com ela, fazendo com que ninguém possa saber daquilo e tornem-se dependentes dela, acaba por contribuir com o seu próprio “inferno pessoal”.
O interessante é que o oposto é também verdadeiro. Ou seja, se por um lado temos um ciclo vicioso que mantém o jogo funcionando em torno de algo que é nocivo para todos, é possível, também, criar bons ciclos ou ciclos virtuosos que tornem o jogo uma dinâmica alegre e funcional visando o desenvolvimento de cada um dos integrantes e da família como um todo. O que é uma família virtuosa? Ninguém ousaria dizer hoje, existem certas discordâncias em torno desta questão, porém alguns itens são consenso.
Um deles que é o que eu sempre adoto como ponto fundamental é o da individualização. Ou seja, podemos entender que uma família está indo numa boa direção quando seus membros conseguem ter um desenvolvimento pessoal pleno e ser respeitado em sua individualidade constituindo uma relação com os outros membros da família. Ser uma pessoa individual, respeitar a individualidade do outro e conseguir relacionar-se com ela de alguma maneira, eis o ponto.
Abraço