A felicidade é um sonho de todos. Todos temos critérios do que nos tornaria felizes como uma casa, uma conta bancária maior ou a possibilidade de viajar todos os anos. Mas até que ponto tudo isso é realmente necessário à felicidade?
Por mais que essas coisas todas despertem sensações e emoções prazerosas em nós, convém lembrar de outro fato: em geral, após termos uma vitória ou conquista, a sensação de bem-estar que ela provoca não dura muito tempo. Ela dura, na verdade, o tempo suficiente para que nosso cérebro se habitue com o novo padrão de vida. Uma vez que isso ocorra, ter um milhão na conta ou ter mil reais soa para o nosso cérebro como “a minha conta”, ou seja, da mesma maneira.
É óbvio que não descarto aqui as possibilidades que esta diferença tem. Ela é importante, porém o foco da discussão aqui é que aquilo que se ganha não mantém um estado emocional durante muito tempo. “E existe algo que faz isso?”, você pode perguntar. Sim, existe. Inclusive, esta é uma das chaves que se estuda muito em relação ao tema felicidade.
Estudos do psicólogo John Gottman mostram que um exercício muito simples é capaz de aliviar sintomas de depressão leve e moderada num prazo de até duas semanas. Anota-se, ao final do dia, num caderno coisas boas pelas quais a pessoa passou. Este pequeno ato é capaz de atenuar sintamos e muitas pessoas mantém este registro por longos períodos pelo seu benefício. Chama-se isso de exercício da gratidão.
A gratidão é uma emoção que sentimos ao obter alguma dádiva de alguém ou de alguma força superior na qual a pessoa creia. Esta emoção possui um componente importantíssimo que é seu fundamento: perceber algo de bom em sua vida e apreciar este algo. A gratidão é impossível sem esta percepção. Esta apreciação é uma das chaves que se tem estudado na nossa busca pela felicidade.
Pessoas que são felizes em geral tendem a apreciar suas vidas, suas rotinas, amigos, parceiros e bens. A apreciação necessita de contato com aquilo que temos. Ao apreciar valorizamos aquilo que já existe. Este valor que se vai atribuindo aquilo que já existe é importantíssimo para que a sensação de bem-estar e felicidade exista. No consultório, por exemplo, recebo muitas pessoas que simplesmente não conseguem olhar para o que possuem e fazem de bom. Entre dez atitudes positivas e uma meio negativa, esta última assume um valor maior que as outras dez.
Apreciar é extrair da experiência toda a sua essência. Entre beber uma taça de vinho e apreciar uma taça de vinho existe muita diferença. Apreciando conhecemos muito mais os detalhes do vinho, apreendemos suas características e tornamos nossa experiência muito maior. É comum que ao degustar um vinho as pessoas bebam menos, inclusive, pelo fato de a experiência ser tão interessante que os sentidos ficam saturados pela informação.
Assim, se você quer ser feliz, é importante aprender a apreciar aquilo que tem. O contra argumento é dizer que isso faz a pessoa ficar acomodada. O argumento é falso por dois motivos: em primeiro lugar o medo de não atingir metas pode ser tão paralisante que a pessoa nunca dá um passo fora do seu quadrado. Em segundo apreciar não significa não desejar mais experiências. A diferença é que se dá valor à cada experiência ao invés de passar por cada um delas rapidamente como num fast food.
Então, aprecie sua vida. Seus amigos, sua família, suas posses atuais. Aprenda a dar valor ao que há para que você possa sonhar com aquilo que realmente deseja e ir atrás com ainda mais convicção.
Abraço