• 2 de setembro de 2015

    Luta perdida

    – Mas Akim, se eu não gosto disso em mim tenho que mudar não tenho?

    – Não sei, tem? Porque é obrigatório mudar algo que você não gosta em você?

    – Meu… se eu não gosto…

    – Você não gosta e ponto, isso pode ou não ser o propulsor de uma mudança.

    – Para mim é.

    – Perfeito. Agora, o que você quer?

    – Mudar isso, não quero mais ser brabo desse jeito.

    – O problema é ser brabo ou não saber ser paciente?

    – Acho que os dois.

    – Quando ser brabo pode ser útil?

    – Nunca eu acho… só me ferro com isso.

    – Bem, tem momentos em que ser brabo pode fazer alguém pensar duas vezes antes de se meter com você não tem?

    – Bom… isso é verdade…

    – Então, que tal aprender a alocar corretamente a sua brabeza ao invés de ser escravo dela e aprender a ser paciente onde você não sabe ao invés de ficar brigando com a sua brabeza?

    – Hum… não tinha pensado nisso…

     

    Mudar… o que é mudar? Hoje em dia a palavra mudança está relacionada com “deletar” coisas que “não gostamos” e colocar coisas que “gostamos” em nosso comportamento, mas será essa percepção correta, ou ainda mais: saudável?

    Em primeiro lugar, mudar não significa deletar nada. Não é necessário “perder” comportamentos – até porque isso não é possível – para que aprendamos novos comportamentos ou atitudes. A ideia de deletar algo que não gostamos está, em geral, associada à nossa incapacidade em lidar de maneira adequada com determinados comportamentos, ideias, valores e atitudes. A partir do momento em que se aprende a alocar de maneira correta é difícil encontrar um desses elementos que não seja pertinente ou útil em determinados contextos.

    Outra questão relativa à mudança como “deleção” se dá pela nossa sociedade de consumo que preconiza auto imagens idealizadas e irrealistas que buscam um ser “perfeito”, sem defeitos. O problema é que a palavra “defeito” está associada ao “gosto” da pessoa. Isso é uma armadilha sem precedentes porque nosso “gosto” muda ao longo do tempo, às vezes ao longo de um tempo curto, inclusive. Assim sendo algo que deveria ser deletado hoje, pode ser algo que preciso daqui a uns dois anos (ou seis meses).

    Uma última questão é que a deleção não promove mudança de fato. Por vezes o que mais precisamos não é parar de fazer alguma coisa, mas sim começar a fazer algo novo que não sabemos. Assim, existe uma luta contra a característica “non gratta” que é uma luta perdida porque nós não perdemos comportamentos. Não se deleta comportamentos, na melhor das hipóteses, deixamos eles tão distantes da consciência que é como se ele não existisse, porém o caminho neuronal em geral está lá.

    Assim, se você está querendo mudar algo em você, comece por um caminho mais interessante. Compreender aquilo que desejamos mudar em nós e dar à este comportamento uma nova função em sua vida é um dos “milagres” da terapia. No exemplo acima coloquei a raiva como exemplo. Ser explosivo, rude e nervoso, pode ser algo muito útil quando estamos sendo explorados por alguém, por exemplo. Esta capacidade pode intimidar a pessoa que quer nos intimidar e evitar um monte de problemas. É óbvio que isso não é necessário quando vai se falar com seu filho sobre o que fazer no feriado. Com a alocação correta podemos pegar aquilo que mais detestamos em nós e tornar uma fonte de orgulho.

    Assim resta a segunda parte: aprender um novo caminho. A rudez e brabeza, por exemplo, requerem que a pessoa aprenda mais suavidade nos tratos sociais, por exemplo. Aprender a lidar com frustração, ter mais respostas frente à desejos  de terceiros e aprender a negociar são competências que podem ser desenvolvidas para a pessoa aprender a se comportar de maneira mais leve.

    Não trave lutas desnecessárias com você mesmo, aprenda novos comportamentos, aprenda a ver o valor naquilo que você não gosta em você mesmo, isso é auto desenvolvimento porque nem sempre gostamos de tudo na vida, mas isso não é motivo para eliminarmos nada e nem para nos desvalorizarmos.

    Abraço

     

     

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