– E daí, eu não entendo porque eles não concordam comigo.
– Porque deveriam?
– Como assim?
– Bem, você está pensando em sair de casa e ir viver a sua vida do seu jeito certo?
– Sim.
– Se a decisão é sua, porque seus pais devem apoiar ou não você?
– Bom, seria melhor né?
– Claro, mas isso é uma condição?
– Hum…
– Você quer ir viver a sua vida e todo mundo tem que concordar com isso senão você não vai? Bem adulto isso.
– Puxa…. verdade mesmo… to querendo aprovação ainda…
– É né?
Sair do ninho, viver a sua própria vida e enfrentar seus desafios. Aparentemente esta se tornou uma meta na sociedade atual, mas sabemos mesmo como fazer isso? O que realmente significa “sair do ninho”?
Em algumas localidades de Papua Nová Guiné as crianças ainda são submetidas aos ritos de passagem da vida infantil para a vida adulta. Alguns rituais são – para os padrões ocidentais – horríveis e algumas crianças não passam por eles, ou seja, elas morrem. Em um dos rituais que conheço existe um momento em que os jovens meninos são picados por inúmeras formigas – para que o leitor compreenda: alguns morrem com isso.
Eles são deixados para sobreviverem sozinhos por estas picadas. O fato é marcante: não tem como a pessoa não entender, depois disso que ela está sozinha para sobreviver. A mudança à que o ritual se propõe é de deixar evidente a necessidade de viver por si só, de eliminar qualquer traço de dependência emocional e psicológica. Na antiga Esparta, existia o ritual da Agoge de onde o menino emergia um guerreiro.
Estes ritos não existem mais na nossa sociedade ocidental. Sua ausência cria um problema com o que é, de fato, ser independente. Alguns confundem independência com ausência de críticas sobre o seu comportamento. A fórmula seria: se sou independente, ninguém mais pode me contrariar. Ledo engando. Outros entendem que a partir da independência, todos os seus sonhos irão se realizar, ingênuos. Alguns ainda pensam que trata-se de fazer aquilo que se quer, nada brilhante.
Sair do ninho é a expressão que tenho encontrado como a melhor referência do que significa, em nossos dias amadurecer, tornar-se adulto. Não se trata de um abandono, é uma escolha. Este é o primeiro ponto. O segundo é que tem a ver com estar pronto para voar, não necessariamente isso signifique estar pronto para todo o resto que vem depois. O terceiro é uma atitude de coragem e nada tem a ver com o resto da família, mas sim com a pessoa.
Psicologicamente falando compreendo que uma pessoa passou para o “lado adulto” quando ela para de se pensar em relação à seus pais. É compreender que você é uma pessoa e não apenas um filho. Ser filho e adulto ao invés de ser apenas o filho. A marca da individualidade aparece quando a pessoa sabe ser criticada por suas decisões, ou seja, ela lida com a desaprovação do outro assim como com a aprovação, enquanto apenas a aprovação é importante ela não está madura o suficiente.
Quando sabe ver a herança que recebeu de seus pais e fazer uma diferença entre aquilo que quer carregar e aquilo que não que carregar. É quando a pessoa se torna “diferente” sem precisar da aprovação. Ou seja, mesmo estando só no mundo eu posso buscar a minha sobrevivência. Aprender a lidar com falhas eu creio que é outra característica do adulto. As crianças não toleram a falha, são sempre perfeitas, os adultos toleram, falhar faz parte do jogo.
Sair do ninho, então, é, inicialmente, uma atitude mental, uma atitude psicológica. Tornar-se adulto é algo que a pessoa faz quando rompe os grilhões da dependência e aceita o mundo tal como é. O realismo é a marca do adulto que passa a “brincar” no mundo compreendendo-o tal como ele é e se compreendendo tal como é. Menos arrogância e mais realismo é o que faz com olhemos para o mundo além do ninho e compreendamos que nossa jornada está nos esperando.
Vamos bater asas.