– Akim, me deu nojo dele! Nojo!
– Sim, eu imagino!
– Como que ele pode dizer algo assim pra mim?
– Também não sei… ele foi… nem rude dá para dizer…
– Eu jamais esperava isso dele. Não consigo mais nem pensar nele sabe? E não é raiva… é esse nojo mesmo!
– Claro. É tão chocante que chega a ser tóxico e esse tipo de coisa a gente tem que botar pra fora.
Você sabia que o nojo é uma emoção? Ela é uma das emoções mais antigas e mais desconhecidas. Sua funcionalidade, no entanto, sobreviveu ao longo da evolução e tem se adaptado, servindo de base para emoções sociais e morais como o desprezo e a intolerância.
O nojo é uma das emoções mais antigas porque ela tem função primordial na evolução: afastar o ser de uma possível morte ao ingerir algo tóxico. Ao vincular determinados cheiros, gostos e texturas à possíveis alimentos ou cheiros tóxicos, o nojo e sua reação rápida de aversão permitiram que o ser humano sobrevivesse ao longo dos anos.
O nojo além de manter sua função primordial de nos afastar de substâncias tóxicas, parece estar evoluindo em conjunto com elementos morais e sociais. O desprezo, a intolerância e o próprio comportamento de racismo envolvem elementos do nojo. A questão evolutiva faz com que a base do nojo, que é determinar que algo é tóxico e não se aproximar, ou no caso de aproximação cuspir rapidamente, faça referência à comportamentos, pessoas, estilos de vida e até mesmo determinados sentimentos.
O cerne é compreender o que é o “tóxico”, ou seja, aquilo que nos fará passar mal ou até mesmo morrer no caso de sua “ingestão”. Muitas pessoas sentem o desdém, conhecido também como “nojo social” porém não conseguem falar sobre ele preferindo guardar esta emoção para si. Isso pode ser algo tóxico também, afinal de contas você “engole” a emoção que deveria ser expressa.
Não, não estou dizendo que você deve tratar mal as pessoas ou expulsá-las de perto de você pelo fato de sentir o desdém, mas sim que é importante verificar o que, de fato desperta esta emoção em você. O nojo, de fato, verifica-se ao provar ou analisando a estrutura do alimento em ver que ele não é tóxico ou, no caso de ser, realmente não comê-lo. Como verificar isso no caso humano?
Em primeiro lugar é importante compreender o que a pessoa está chamando de “tóxico”. Muitas vezes o tóxico se refere à uma falta de maturidade da pessoa que sente o nojo. Outras vezes isso pode significar um comportamento que ela realmente se incomoda e com o qual não precisa lidar. A questão da maturidade precisa ser trabalhada para que a pessoa possa aprender a lidar com o comportamento de terceiros.
Diferenciar o ser do seu comportamento é outro fator importante. Quando não gostamos de um determinado comportamento, em geral, associamos o comportamento à pessoa que o exibe. Assim passamos a não gostar da pessoa e não daquilo que ela faz. Porém ao separarmos isso, podemos aprender a lidar com a pessoa e com o comportamento dela. Em geral as pessoas sentem nojo de algum comportamento ou característica da pessoa e não dela “per se”.
Passamos então a compreender porque a pessoa sente nojo de determinada característica ou comportamento. Aqui é o momento de ver quais as associações feitas. Como o desdém é uma emoção moral, é normal que as associações tenham este tipo de perspectiva. É importante buscar dentro disso o que é um valor para a pessoa e que pode estar sendo violado e o que sã percepção preconceituosas e/ou imaturas da parte dela.
Por fim trabalha-se com a revisão dos valores e adequação dos mesmos aos comportamentos. Como no caso do nojo real, o nojo social só é vencido quando confrontamos aquilo que achamos que é tóxico com um teste de realidade, ou seja, “provando”. Até hoje nenhum cliente meu morreu depois de ingerir uma boa dose de humanidade.
Abraço