• 26 de outubro de 2015

    Exploradores e aventureiros

    – Mas sabe Akim… antes era muito mais fácil para mim fazer minhas escolhas.

    – Ah é, hum… e porque será?

    – Ah, eu não me importava sabe? Deu, deu, não deu…

    – Entendi… você não se importava com as consequências.

    – Sim.

    – Então era um inconsequente?

    – Como assim?

    – Ora, você não se importava com as consequências. Quer dizer, escolhia algo, mas não estava comprometido com os resultados disso.

    – É.

    – E agora, você ainda escolhe as coisas sem compromisso ou a sua escolha, agora, advém de um desejo de realmente alcançar algo?

    – A segunda opção…

    – Pois é, daí que, agora, você pensa mais antes de agir. Deixou de ser inconsequente, amadureceu.

    – Nunca tinha pensado nisso.

     

    Muitas pessoas quando começam a se tornar adultas sentem-se perdidas em relação às suas escolhas a ao peso que as mesmas possuem em sua vida. Sentem estar “perdendo sua vida” ou “sua essência” ao abrir mão de elementos de sua juventude. Também ocorre que ao sentir uma vida com critérios mais definidos entendem que estão ficando rígidos e velhos. Será isso mesmo?

    A imagem do aventureiro é romântica, o homem que vai, sem rumo ou compromisso, seguindo apenas o seu desejo sem respeito por regras ou imposições. A imagem é romântica e desejada porque causa naquele que a vê uma suposta imagem de independência assim como de onipotência. Poder fazer tudo o que se quer, quem não deseja isso, é por este motivo que a inconsequência e os aventureiros são tão românticos em nossa sociedade.

    Porque “suposta” imagem? Na maior parte dos casos, na verdade o aventureiro é alguém com problemas de adaptação. Sua natureza não tem nada a ver com “independente” e sim com um problema grave em conseguir manter relações e compromissos de longo prazo, muitas vezes associados com – pasmem – baixa auto estima. Além disso, ninguém é onipotente por mais que passe esta imagem.

    Aventura é o que temos quando somos jovens. Ela é ótima, apaixonante e nos ensina muita coisa. Porém, num determinado momento a aventura precisa amadurecer ou correr o risco de ficar imatura o resto da vida. Quando o aventureiro amadurece ele se torna várias coisas: desde um explorador até um “chefe de tribo”. A questão, portanto, é aprender a evoluir. O medo que os jovens sentem está ligado à não compreender no que estão se tornando e, com isso, desejar – pelo medo – voltar ao estágio anterior.

    Aprender a lidar com as consequências de suas escolhas é o que o aventureiro não sabe fazer. Por isso ele se mantém imaturo, ele necessita de uma aventura, se ela não vem entedia-se, perde o sentido pela vida, não sabe o que fazer. Sua “essência” é dependente do meio externo: alguém que o convide para uma festa, um evento na cidade, um curso que apareça, alguma coisa que o faça entrar em movimento, porém o movimento interno é pequeno, frágil ou inexistente.

    Quando compreendemos que as escolhas possuem consequências as escolhas mudam de nível. Não é que fica “mais difícil”, mas é que deixamos de nos guiar pelo impulso – característica dos jovens e aventureiros. No entanto, quando se aprende a lidar com as consequências e emoções que ela traz, desde o orgulho até a culpa – a pessoa aprende a brincar nesta nova esfera.

    O aprendizado gerado por este amadurecimento, inclusive, envolve a compreensão de quando uma aventura é importante na vida. Não se perde a espontaneidade como muitos alegam, mas sim, toma-se consciência dela enquanto algo que acontece conosco e não algo que precisa – necessariamente – guiar cada passo de sua vida. Aprender com a espontaneidade envolve saber quando não usá-la e é necessária muita maturidade para compreender isso como uma escolha saudável e não apenas como um ato de repressão.

    O explorador, ao contrário do aventureiro, busca pela aventura com consciência. Ele não precisa ser jogado nela, ele a busca enquanto que o aventureiro precisa contar com a sorte. Ao buscar ele ambiciona, ele vê o longo termo e se prepara, busca amigos, professores, competências, entende seus limites e, então vai até o horizonte. Ele avalia – ao invés de julgar – e sabe posicionar-se frente à aventura que escolhe. Ele tem um fim, sabe aproveitar oportunidades e guia-se unindo instinto, emoções e razão. Isso é um adulto.

    E você precisa ser salvo do seu marasmo pela aventura, ou sabe onde achá-la?

     

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