– Eu estou com muito medo.
– Mas porque, não queria ser pai?
– Queria… mas sabe… é como se eu fosse perder algo entende?
– O que, por exemplo?
– Não me vejo mais com a mesma liberdade.
– Sim… é verdade, a liberdade muda.
– Então… isso me dá medo de perder.
– Entendo. Mas eu disse que sua liberdade muda, não que você a perde.
– Como assim?
– O que você vai ganhar sendo pai?
– O filho né? Sei lá… brincar com ele, cuidar dele acho que são coisas divertidas.
– Sim… a sua liberdade muda… vai perder uma saída “na hora que me dá na telha”, mas vai ganhar o sorriso do seu filho quando brincar com ele.
– Hum… pensando assim…
– O que acontece?
– Parece que não fica mais tão assustador… estou pensando nas outras coisa que vão começar a acontecer… dá até ânimo.
– Ótimo.
Num primeiro momento você se pergunta: o que emoções, tão subjetivas e imprevisíveis tem a ver com critérios? Será que elas são assim mesmo, tão imprevisíveis e subjetivas? Vem comigo.
Emoções possuem o que chamamos de EEC, ou Estímulo Emocionalmente Competente. Este estímulo é que “dispara” a reação emocional em nós. Assim quando percebemos qual o EEC que dispara uma determinada emoção em uma pessoa, podemos ter um grau grande de certeza de que na presença daquele estímulo ela sentirá determinada emoção.
Por exemplo, a perda de um filho é um EEC muito poderoso (leia-se eficaz) para a espécie humana em relação à emoção da tristeza. Histórias de perdas em geral nos inspiram a sentir tristeza. Outro EEC conhecido é a presença repentina de um animal feroz que nos induz ao medo ou à surpresa. Mas existem outros EECs mais sutis e relacionado à história pessoal da pessoa, à sua percepção de um evento ou aos critérios que ela usa no seu dia a dia.
O caso acima, por exemplo, registra um homem sentindo medo de ter um filho. O medo advém da ameaça de “perder sua liberdade”. Neste caso existem dois elementos importantes: a valorização da liberdade e sua percepção como “poder sair à qualquer hora” junto com o fato de perceber a perda disso. Temos, então, o valor liberdade junto com o critério “perda”, o resultado é medo.
Quando trabalhamos flexibilizando a sua percepção do que é liberdade junto com a ideia de ganho ele passou a sentir-se mais animado em relação ao nascimento do filho. O valor da liberdade foi mantido e o critério de perda foi transformado em ganho o que, por si só, mudou a percepção da situação geral e o fez sentir-se de uma outra maneira.
Nossas emoções respondem aos EECs assim como aos critérios que empregamos em nossas vidas. Quando mudamos os critérios ou lhe damos um novo entendimento isso afeta a maneira pela qual o mesmo EEC é percebido em nossa mente e isso modifica a resposta que damos à ele, inclusive a resposta emocional. Perceber os critérios que usamos em nosso dia a dia é uma maneira muito eficaz de saber como podemos administrar melhor nossas reações emocionais.
A tristeza, por exemplo, tem a ver com perdas. Assim se sou uma pessoa que tende a perceber aquilo que está perdendo, a tendência é que eu sinta mais tristeza do que outras. Se sou uma pessoa que encontra perigo em tudo a tendência é que eu seja uma pessoa que sente muito medo, ansiedade ou raiva, visto que ameaça é um critério importante para estas emoções (você nunca vai ver alguém com medo de algo que não o ameace de alguma maneira).
Modificar critérios, aprender a empregá-los de uma maneira diferente, flexibilizá-los (como fizemos acima) são algumas das estratégias que nos ajudam a trabalhar com nossos critérios e, por conseguinte, com nossas emoções. Outro caminho é perceber as emoções e sentimentos que você mais sente e, com isso, buscar o critérios que as nutrem e, então, empregar as estratégias citadas acima.
Que critérios são importantes para você?