• 23 de outubro de 2015

    Quem pode sofrer?

    – Eu não sei mais o que fazer Akim.

    – Eu imagino, não tem muito mais mesmo.

    – Não sei como lidar com isso!

    – Com o que, especificamente?

    – Ele não quer que eu vá, mas eu tenho que ir sabe? A reunião é importante pra mim!

    – Eu sei. O que eu não entendo é o seguinte: porque ele não pode ficar brabo?

    – Ele  não deveria, é coisa boba.

    – Sim, concordo, mas, uma vez que está ficando, porque você tem que fazer de tudo para ele não sofrer enquanto você fica aí se contorcendo por causa da sua reunião?

    – É… eu sempre penso muito nos outros…

    – É.

     

    Importar-se com os outros é algo importante para a vida em sociedade. Porém existem limites onde importar-se começa a se tornar depender e, depois disso abre-se mão do que é importante para si em detrimento de caprichos do outro. Você sabe reconhecer estes limites?

    Como já disse importar-se com o ouro é uma característica humana fundamental. Nossa biologia vem equipada para nos conectarmos com outros seres humanos e gerarmos empatia e laços emocionais. Essa conexão constitui nossa vida social, afetiva e nos organiza em relação à quem somos no mundo.

    Nossa biologia também vem equipada para saber quem somos. Nosso cérebro mapeia incessantemente o nosso corpo gerando imagens mentais sobre como cada parte e cada processo de nosso corpo está vivendo. A integridade é fundamental para o desenvolvimento do organismo assim como as relações o são para o desenvolvimento da vida social.

    Porém, algumas pessoas aprendem que o outro é mais importante do que si próprias. Dão à terceiros um valor maior do que para si. Este é o caso no qual quando pensam em tomar qualquer decisão logo imaginam o que o outro vai pensar e se freiam frente à possibilidade da outra pessoa não gostar ou ficar braba. Este mecanismo, de certa forma, é empregada por todos os seres humanos e ele é, em si, saudável pelo fato de organizar as linhas de respeito.

    Porém existe uma maneira de exagerar esse processo e tê-lo como uma repressão dos seus desejos. Assim não é respeito pelo outro, mas sim, uma maneira de projetar no outro a repressão que é da pessoa. Explico: a pessoa traz consigo uma formação que reprime seus desejos e vontades, porém a maneira de expressar isso é “pensando no outro”. É o caso da pessoa que nem sequer pergunta se vai ou não desagradar, ela já assume que vai e que, portanto, não deve fazer e faz isso com coisas pequenas como, por exemplo, comprar uma comida diferente ou pensar em programar férias.

    Essas pessoas não desenvolveram sua autonomia, precisam do aval do outro para fazer o que querem. Porém, é justamente na busca deste aval que se encontra a sua prisão. Por mais paradoxal que seja, quando recebem permissão para fazer algo elas estão se prendendo porque estão reforçando nelas a atitude de depender do aval de terceiros.

    Elas também tem uma auto imagem muito frágil e idealizada. Se por um lado sofrem por não realizarem aquilo que querem, de outro elas sentem-se – muitas vezes – superiores por serem pessoas tão abnegadas e pensarem tanto nos outros. Indignam-se com aqueles que não fazem como elas e veem pessoas que tomam suas próprias decisões com suspeita.

    O ciclo se rompe quando a pessoa percebe que é ela quem, de fato, se freia. Em várias situações é comum que ela esteja acompanhada de pessoas repressoras, porém, o passo decisivo será dado se ela resolver romper com a sua programação de colocar o outro em primeiro lugar sempre e aprender a se satisfazer com suas próprias escolhas vivendo as consequências delas.

    Para isso, a honestidade é um fator fundamental. Ser honesto em relação ao que sente, inicialmente consigo e posteriormente com os outros é o que faz o ciclo automático de repressão se romper e dá início à um novo ciclo no qual a pessoa poderá expressar-se.

    Você se segura muito “pelos outros”?

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