• 25 de novembro de 2015

    Eu sei que não, mas…

    – Mas é que eu não sei sabe… na hora é tudo diferente.

    – O que é diferente na hora?

    – Bem… quando estou sozinho eu penso e vejo que o melhor e eu não ficar mais com ele.

    – Certo.

    – Mas, quando vou numa festa e vejo ele lá, por exemplo, eu fico pensando em quando a gente já ficou…

    – O que, nesta lembrança, faz você mudar sua decisão?

    – Ah… é gostoso ficar com ele sabe? A gente tem uma química muito boa.

    – Entendi… bem, temos aqui a sensação de prazer que a química traz e de outro lado a sensação de… bem, que sensação terminar de vez com ele lhe traria?

    – Acho que auto controle sabe? Até um tipo de orgulho de conseguir fazer alguma coisa por mim.

    – Claro… tente se imaginar sentindo estas duas emoções e daí me conte: qual a mais interessante?

    – Auto controle, orgulho… na verdade estou precisando disso.

    – Concordo… agora temos que começar a colocar isso como fundamental, ou seja, acima do prazer. O prazer tem que ter um valor menor e de menor importância do que o orgulho e o auto controle para este caso.

    – Entendi.

    Porque continuamos fazendo coisas que não nos servem? Porque passamos por cima de nós mesmos para fazer coisas que, sabemos, vamos nos arrepender depois? A resposta (ou uma delas): essa coisa é realizável para você, para a sua realidade interna ela “não é tão ruim assim”. Quer saber mais?

    De uma certa forma podemos tratar isso como um problema de maturidade, ou seja, o grau de resolução sobre o que não devo fazer é, ainda, pequeno. Para muitas pessoas se dar limites é um martírio, elas não aceitam a noção de que existem coisas que simplesmente elas não devem fazer. É uma versão do rebelde sem causa: mora sozinho e foge de casa.

    Nesse sentido a pessoa entende cognitivamente o que é ruim para ela, mas emocionalmente ainda não tem bem estruturada a noção de limitar-se, então faz aquilo que é ruim para ela apenas para dizer que faz. É como se ela dissesse para ela mesma: ninguém manda em mim. Assim ela é imatura ao dizer-se não, por este motivo repete.

    Em outra versão da questão da maturidade o problema está no fato da pessoa não ter amadurecido o que ela quer. Nesta versão ela até sabe se dar limites, porém ainda não conseguiu deixar 100% claro para ela o que ela quer e o que não quer mais (mesmo!). Assim, enquanto a noção está incerta ela termina por se permitir “errar” novamente. Em alguns casos esta versão do problema se dissolve depois de uma certa quantidades de repetição do erro ou de uma consequência muito severa.

    Critérios podem ser problemáticos também. O exemplo mais comum é sobre “dieta”: as pessoas que começam a fazer, em geral, tendem a perceber as perdas que terão ao “parar de comer” alguns alimentos. Comumente essas perdas estão relacionadas à sensação de “barriga cheia” e ao gosto dos alimentos. Quando aquilo que queremos deixar de fazer tem um critério de alto valor para nós, parar de fazer aquilo é entendido como perda o que torna difícil mudar o hábito.

    O que fazer então? É claro que toda escolha implica em perdas, porém, em geral, escolhemos algo melhor para nós de alguma forma. Assim, é importante avaliar os critérios que usamos. No caso de dieta, por exemplo, será que o sabor de um brigadeiro vale mais que a sua saúde? Quando se coloca a saúde e não o sabor em primeiro lugar, fica fácil abrir mão, ou quando colocamos o orgulho como a sensação de estar com um peso adequado e uma saúde boa. O critério tem a ver, também, com os valores e maturidade da pessoa.

    O terceiro ponto mais comum é a ecologia. Ecologia significa dizer que a escolha “errada” tem raízes mais profundas que as aparentes na vida da pessoa. Algumas escolhas, mesmo aquelas que parecem – e são – completamente “boas”, não se concretizam porque afetam partes de nossa vida que não queremos ou sabemos como mudar. Muitas pessoas, por exemplo, não tem filhos porque não querem perder a sua liberdade e não pelo fato de não saberem ser pais. Outras pessoas mantém relações desgastadas por não conseguirem dizer “não” ou terem medo de viver sozinhas.

    A ecologia é um ponto delicado e importante em qualquer processo de mudança. É sempre fundamental verificar as implicações que uma nova escolha terá e se a pessoa sabe como lidar com estas consequências. Quando ela não sabe a tendência é frear o processo ou pior: fazer e sabotar o processo. A sabotagem ocorre quando a pessoa “faz para dar errado” e, com isso, “prova” que não deveria ter feito aquela escolha. A repetição de sabotagens faz com que a pessoa desenvolva medo de decidir, por exemplo.

    Se Identificou? Tá na hora de amadurecer, mudar os critérios ou rever a ecologia?

    Abraço

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