• 29 de junho de 2016

    Desconfiar e conhecer

    – Não sei não… to meio desconfiado.

    – Desconfiado você é. O que eu quero saber é o que te deixa assim?

    – Bom… sei lá, ela é legal e tudo o mais… mas não sei sabe…

    – Não mesmo… o que?

    – Vai que não é o certo ou que dá alguma coisa errada?

    – Tipo ela te trair?

    – É… tipo isso…

    – Bom… até quando você vai avaliar isso?

    – Até sempre.

    – Pois é… daí ao invés de se permitir conhecer alguém, vai ficar sem conhecer “até sempre”.

    – É… eu sei…

     

    Muitas pessoas acham que para poderem se abrir devem desconfiar, ou seja, que uma pessoa precisa provar que não irá lhe causar mal. Nem sempre isso é verdade. Você sabe como pode agir para sentir-se confiante em se abrir à outra pessoa?

    Desconfiar, como disse acima, é o ato de retirar a confiança. No caso de relações humanas isso significa que vejo o outro como um possível causador do danos. Esse “dano” pode ser traição, pode ser manipulação ou qualquer outra coisa que seja temida. No caso da pessoa desconfiada ela percebe que as pessoas são possíveis causadores destes danos e é elas quem devem provar o contrário antes do desconfiado se abrir.

    Esse posicionamento é complicado por vários motivos. Em primeiro lugar a pessoa não está ciente de que deve mostrar que não é causadora de algum tipo de dano, sendo assim, dificilmente ela saberá como mostrar que não vai causar esse dano temido. Em segundo lugar coloca o desconfiado num papel passivo frente à sua própria felicidade, ou seja, não é ele o responsável por checar em quem confiar ou não. Em terceiro lugar o critério é do que “não deve acontecer” e isso é complicado porque  você só pode afirmar que uma pessoa “não fez mesmo” alguma coisa depois que ela morreu.

    Existe, contudo, uma outra maneira de se defender e ainda assim estar aberto à relacionamentos. É conhecer as pessoas. Conhecer é diferente de desconfiar porque ao conhecer nós temos a emoção da curiosidade ao invés da desconfiança. Não trata-se o outro como um “possível causador de dano”, mas sim como uma “pessoa que não conheço”. Esta diferença de atitude é muito importante porque nos abre sem nos expor. É ficar curioso em conhecer como o outro age e reage ao invés de tentar descobrir se ele vai ou não fazer algo ruim para nós.

    Também coloca a pessoa numa posição ativa ao invés de passiva. Quando temos curiosidade somos nós quem buscamos a informação ao invés de esperar que ela chegue até nós. Outro ponto é que se busca conhecer a pessoa por inteiro e não apenas a parte que vai ou não nos causar dano. É muito mais interessante conhecer um ser humano completo do que saber se ele vai ou não nos machucar e só.

    Nesse sentido, é interessante se fazer perguntas, ser curioso como uma criança mesmo, sem julgar ou dar valores morais, apenas entender, compreender e conhecer a pessoa. Observar um ser humano em sua essência, mesmo que nós não nos identifiquemos com ela é uma experiência fantástica, sei disso enquanto psicólogo, e conseguir fazer isso é o que realmente nos ajuda a saber o que esperar ou não dos outros. A desconfiança ajuda, mas ser sempre desconfiado é perder uma possibilidade fantástica de viver o mundo.

    Abraço

     

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