• 9 de dezembro de 2015

    Dor e infelicidade

    – Mas… porque comigo?

    – Porque, o que?

    – Ah Akim… isso tudo sabe?

    – Porque não com você?

    – Nossa… como assim?

    – Ora… tem algo que te prive de viver algo ruim?

    – Não, mas sei lá…

    – Entendo que é difícil, mas é isso… faz parte da vida a dor.

    – Eu sei… mas é dolorida.

    – É. Mas lembre-se: é “só” isso.

     

    Nenhuma religião ou escola filosófica nega a dor. Todas ensinam maneiras de como lidar com ela. A tragédia, a tristeza e a dor são fatos da vida, como você lida com isso?

    O término de uma relação ou a morte de uma pessoa querida são exemplos de eventos que consideramos trágicos e dolorosos. Perder um emprego ou ficar doente, passar necessidade ou buscar por algo que é necessário, mas que não se encontra são outros exemplos de problemas doloridos que enfrentamos. Todos os seres deste planeta passam por dificuldades e privações, não sendo a espécie humana a única privilegiada com a emoção da tristeza e a sensação de dor.

    A percepção da dor no mundo é um “senso comum” em todas as culturas, mitologias, religiões e sistemas filosóficos. O trabalho destes sistemas é buscar uma maneira de compreender ou de justificar a dor que nos ajude a suportá-la e forneça ferramentas para lidar com ela tanto “na prática” quanto internamente.

    Saber que a dor existe não é um grande feito você pode pensar, porém, a percepção da dor como parte da nossa realidade o é. Não significa apenas em saber – intelectualmente – que a dor existe, mas sim em processar esta realidade psicologicamente. Compreender que a dor, a tristeza existirão em sua vida, não importa o que você faça é algo que pode ser tanto (ou mais) assustador que a própria morte.

    A aceitação da dor e da tristeza parece ser, então, um ponto fundamental para o desenvolvimento psíquico pelo fato de que, ao aceitá-la, também aceitamos o real. Porém, frente à isso, como não esmorecer?

    A pergunta que nos salva é, paradoxalmente, porque esmorecer? Em outras palavras: porque é necessário que, frente à percepção de que a dor e a tristeza existem, eu preciso perder minhas forças, preciso me desesperar ou temer o próximo momento em que sentirei isso? Não há ligação entre o fato de perceber a dor e evitar a vida, pelo menos, não uma ligação necessária.

    O engodo escondido na pergunta é de que, na presença da dor, você deve evitar a vida. Isso coloca a tristeza e a dor como elementos “estranhos” à vida, como se fossem “errados”, porém a sua presença está muito além da vida humana e não é necessário que achemos uma “razão” para a dor pelo simples fato de ela não estar “errada”. Ela, apenas, é.

    Porém, como falei acima, ela é dolorida. Aí é que está, o nosso problema: queremos evitar a dor e viver a vida. É um paradoxo visto que faz parte da natureza da vida ser dolorida vez ou outra. Negar a tristeza e a dor é, também, negar a vida. Por outro lado afundar-se na dor também é negar a vida porque retira dela a probabilidade do prazer e da alegria.

    Não há nada para “fazer” com a dor e a tristeza no sentido de “concertá-las” ou arrumar suas naturezas ou a evitá-las por completo. Apenas podemos perceber aquilo que era importante e se foi, ou aprender com a dor o que ela tiver para ensinar. Não é errado sentir tristeza e nem dor, elas são a mostra que de você está vivo, assim como a alegria e o prazer. Afirmar o trágico em nossas vidas, por mais paradoxal que possa ser, também nos coloca dentro da vida. Afirmar-se mesmo durante o trágico, mesmo durante a dor é afirmar a vida que existe em você.

    E, por fim, por mais doloroso que possa ser, saiba: isso também passará.

    Abraço

     

     

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