– Mas sabe Akim, eu estou meio chateada com o meu namorado.
– O que está te chateando nele?
– Ele é muito rabugento!
– Sim… ele é, vimos isso faz tempo, qual o problema?
– É que ele é mesmo…
– Hum, e de que maneira isso está afetando a sua percepção da relação?
– Não sei direito… estou… chateada
– Chateada ou algo como que “confusa”, sem saber ao certo se deve continuar ou não?
– É… algo por aí.
– Então, está na hora de vermos se você realmente aceita a “rabugentisse” dele.
Talvez um dos pontos fundamentais para um casamento dar certo é saber lidar com perdas. Não, isso não é um papo para que você esqueça seus ideais ou entre em estado de resignação frente às barbaridades de seu conjugue. É uma conversa sobre realidade.
Zygmunt Bauman em seu livro “Amor líquido” afirma que um dos maiores medos que podemos ter é o que indefinir nossa vida a partir da relação com outra pessoa. A percepção sagaz do autor mostra uma realidade intrínseca às relações humanas que, cada vez menos, as pessoas sabem como lidar.
Para começar, vamos falar do “contrário”: é importante saber o que você deseja numa relação. O que espera de uma pessoa, de como conviver junto com ela e conhecer os limites que você sabe lidar. Isso tudo tem a ver com o que você deseja e é importante. Não se trata de fazer o desenho do “homem ou mulher perfeito(a)” e nem da “relação ideal” sem pé na realidade, mas sim de conhecer aquilo que funciona para você e o que não funciona.
Junto com isso se faz importante compreender aquilo que você não quer e que consegue suportar. Eu sempre uso dois critérios sobre os defeitos: aqueles que sei ou não como lidar e aqueles que aceito ou não lidar. É importante que saibamos os tipos de defeitos com os quais sabemos lidar. Muitas pessoas, por exemplo, não sabem lidar com pessoas brabas, outras não se importam entendem como reagir adequadamente à brabeza do outro e isso não se configura num problema na relação.
Além disso é importante compreender aqueles que você aceita ou não aceita. O fato de saber como lidar com um defeito, dar limites numa pessoa briguenta, por exemplo, não significa que você queira conviver com isso. O fato de você não saber lidar com um determinado problema também não o impede de aceitar conviver com isso e tentar aprender sobre como lidar. Você pode não saber lidar com uma pessoa com mau humor, mas não ver muito problema em aprender isso e, então conviver com este defeito.
A lista dos defeitos tanto no outro, quanto na relação é fundamental por um simples fato: eles existem e é melhor estar bem preparado para isso do que se iludir de que o seu conjugue não terá problemas. É libertador também, porque quando os problemas começam a surgir a sensação não é de auto-engano ou de frustração, mas sim de escolha. É interessante perceber que muitas pessoas quando fazem este exercício se deparam com uma estranha sensação de poder pessoal ao estar vivendo algo que ela não gosta e aceitou.
Interessante, porém facilmente explicável: ao escolher aquilo que não gosto estou exercendo o meu poder de escolha e lidando com a realidade. Isso é muito diferente da postura costumeira de frustração que as pessoa trazem ao consultório no momento em que descobrem que o outro é o outro. Na verdade, em quase 100% dos casos as pessoas já sabiam dos defeitos, estavam só esperando eles desaparecerem. Muito mais fácil e honesto aceitar e viver com alguém real do seu lado.
Abraço