• 25 de janeiro de 2016

    Perdas e casamento

    – Mas sabe Akim, eu estou meio chateada com o meu namorado.

    – O que está te chateando nele?

    – Ele é muito rabugento!

    – Sim… ele é, vimos isso faz tempo, qual o problema?

    – É que ele é mesmo…

    – Hum, e de que maneira isso está afetando a sua percepção da relação?

    – Não sei direito… estou… chateada

    – Chateada ou algo como que “confusa”, sem saber ao certo se deve continuar ou não?

    – É… algo por aí.

    – Então, está na hora de vermos se você realmente aceita a “rabugentisse” dele.

     

    Talvez um dos pontos fundamentais para um casamento dar certo é saber lidar com perdas. Não, isso não é um papo para que você esqueça seus ideais ou entre em estado de resignação frente às barbaridades de seu conjugue. É uma conversa sobre realidade.

    Zygmunt Bauman em seu livro “Amor líquido” afirma que um dos maiores medos que podemos ter é o que indefinir nossa vida a partir da relação com outra pessoa. A percepção sagaz do autor mostra uma realidade intrínseca às relações humanas que, cada vez menos, as pessoas sabem como lidar.

    Para começar, vamos falar do “contrário”: é importante saber o que você deseja numa relação. O que espera de uma pessoa, de como conviver junto com ela e conhecer os limites que você sabe lidar. Isso tudo tem a ver com o que você deseja e é importante. Não se trata de fazer o desenho do “homem ou mulher perfeito(a)” e nem da “relação ideal” sem pé na realidade, mas sim de conhecer aquilo que funciona para você e o que não funciona.

    Junto com isso se faz importante compreender aquilo que você não quer e que consegue suportar. Eu sempre uso dois critérios sobre os defeitos: aqueles que sei ou não como lidar e aqueles que aceito ou não lidar. É importante que saibamos os tipos de defeitos com os quais sabemos lidar. Muitas pessoas, por exemplo, não sabem lidar com pessoas brabas, outras não se importam entendem como reagir adequadamente à brabeza do outro e isso não se configura num problema na relação.

    Além disso é importante compreender aqueles que você aceita ou não aceita. O fato de saber como lidar com um defeito, dar limites numa pessoa briguenta, por exemplo, não significa que você queira conviver com isso. O fato de você não saber lidar com um determinado problema também não o impede de aceitar conviver com isso e tentar aprender sobre como lidar. Você pode não saber lidar com uma pessoa com mau humor, mas não ver muito problema em aprender isso e, então conviver com este defeito.

    A lista dos defeitos tanto no outro, quanto na relação é fundamental por um simples fato: eles existem e é melhor estar bem preparado para isso do que se iludir de que o seu conjugue não terá problemas. É libertador também, porque quando os problemas começam a surgir a sensação não é de auto-engano ou de frustração, mas sim de escolha. É interessante perceber que muitas pessoas quando fazem este exercício se deparam com uma estranha sensação de poder pessoal ao estar vivendo algo que ela não gosta e aceitou.

    Interessante, porém facilmente explicável: ao escolher aquilo que não gosto estou exercendo o meu poder de escolha e lidando com a realidade. Isso é muito diferente da postura costumeira de frustração que as pessoa trazem ao consultório no momento em que descobrem que o outro é o outro. Na verdade, em quase 100% dos casos as pessoas já sabiam dos defeitos, estavam só esperando eles desaparecerem. Muito mais fácil e honesto aceitar e viver com alguém real do seu lado.

    Abraço

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