• 18 de janeiro de 2016

    Transbordando de emoções

    – Muito difícil Akim!

    – Eu sei… me diga assim: qual a emoção mais forte?

    – Eu acho que é a tristeza sabe?

    – Sim… o que você sente que perdeu?

    – A confiança… não sei se vou conseguir confiar nele ainda

    – E isso te dá raiva?

    – É… e eu fico com isso tudo dentro de mim… pensando se perdoo ou não.

    – Que acha de começarmos a tentar acolher a sua tristeza e depois, analisado o que aconteceu, pensarmos no que deveria ocorrer para o perdão ser possível?

    – Sim…

    – Que estado de humor é mais interessante para você pensar nisso?

    – Como quando estava planejando nossa vida futura… quer dizer… de um jeito ou de outro estou fazendo isso né?

    – É verdade…

     

    Quem nunca passou por aquela situação que não trouxe apenas uma, mas sim várias emoções ao mesmo tempo? E ainda, para ajudar, um monte de emoções conflitantes que demandam ou fazem a gente ter respostas diferentes e conflitantes? O que fazer nesses momentos? Esta é a resposta mais difícil de todas.

    Para tentar ajudar o leitor vamos começar por alguns fatos: um mesmo estímulo pode, sim, gerar várias emoções conflitantes ao mesmo tempo (portanto não, você não é louco ou está entendendo algo errado). Saber administrar todas essas emoções (e ainda viver né?) é a difícil tarefa que exige muita maturidade emocional. Existe outro fato também: uma emoção pode ser a causa de outras emoções, ou seja, sinto medo de algo e minha resposta ao medo é sentir raiva e então ajo como se estivesse sentindo “apenas” raiva, mas ando com o medo junto.

    Esta distinção é importante para ajudar você a compreender o que fazer. Um fato é sentir duas emoções porque o mesmo estímulo as provoca ao mesmo tempo e outra coisa é sentir uma emoção que tem outra como resposta. E, agora para complicar, é possível que ambos os processos existam ao mesmo tempo. Ou seja, é possível que um mesmo evento provoque, por exemplo, duas emoções e que eu tenha frente à uma delas outra resposta emocional ficando, assim, com três emoções para administrar.

    O terceiro ponto é importante também: ao sentir uma ou mais emoções podemos ter acesso à lembranças e/ou criar cenários futuros. Estas lembranças e cenários podem evocar outras emoções que não tem nada a ver com o momento presente e então, a pessoa fica com várias emoções e vários cenários para lidar, obviamente, isso só complica ainda mais o momento.

    Tudo isso é importante de ser percebido porque cada emoção fala de uma parte da equação e necessita de respostas específicas. Por exemplo, se um determinado evento me causa medo e reajo ao medo através da raiva, pode ser que a minha reação me ajude a lidar com ambas as emoções ao mesmo tempo. O medo serve para proteger e a raiva para que façamos alguma coisa contra algo que está indo contra nossa felicidade. Assim, se sinto medo, por exemplo, de ir mal numa prova e fico reajo ao meu medo com raiva dizendo, por exemplo “vou “destruir” nessa prova” e estudo muito, a reação é capaz de satisfazer ambas emoções e isso me ajuda a administrar o meu problema.

    Se a situação se torna mais complexa se, por exemplo, envolve mais elementos, que precisam de respostas distintas ou em lugares temporais diferentes. Situações conjugais onde sente-se tristeza frente à um determinado comportamento do conjugue ao mesmo tempo em que se sente raiva (ou nojo) e que, no futuro, deverão trazer a decisão de se o comportamento será perdoado ou não são muito complexas.

    A pessoa sente a tristeza e raiva ao mesmo tempo. Tristeza fala sobre perda e raiva sobre agir para proteger a sua felicidade. Ela deverá lidar com respostas que a ajudem a elaborar a perda, outro nível de resposta para se agir em prol de sua proteção. Esses dois níveis de resposta geralmente não se combinam e, por isso, exigem maturidade emocional para serem atendidos ao mesmo tempo.

    Assim é importante compreender de que maneira o mesmo estímulo lhe provoca uma e outra emoção. Isso é necessário para saber como lidar. A tristeza pode ser provocada pela perda de confiança ou pela sensação de ter perdido o respeito diante do parceiro, cada uma delas prevê reações distintas. A raiva, por outro lado, pode ser um movimento que visa manter o conjugue próximo ou questioná-lo frente às suas ações. Combinar estas duas respostas se torna, então o grande desafio.

    Em geral, costumo ajudar meus clientes a analisarem os “pedaços” da situação e então pensarem em uma emoção que seria útil para ajudar com as outras. Ao fazer isso, tento “trocar” aquela miríade de emoções por uma que “foca” e centra a pessoa num conjunto de ações para se resolver emocionalmente. Se o leitor disser, “mais fácil falar que fazer”, vou concordar, porém este caminho tem se mostrado muito eficaz.

    Abraço

     

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