– Mas Akim… ele é muito melhor que eu nisso.
– Se melhor = quantidade, concordo.
– Então!!
– Então o que?
– Vê como eu me sinto um merda? Além de não conseguir ficar com as gúrias ainda tem ele do lado!
– Não, não vejo. Pode me explicar como você faz para sentir-se um merda com isso?
– Nossa Akim… tá eu lá sem nada e o cara lá pegando todas… quer que desenhe?
– Seria bom, porque eu gostaria de ver como esta característica te transforma num merda.
Muitas pessoas dizem se comparar com outras para saber se estão “bem” ou “mal” frente à vários critérios. Porém existe uma diferença grande e importante entre a comparação sadia e e desvalorização, você sabe qual é?
Comparar-se em relação à outras pessoas é uma atividade comum. Em geral percebemos que ela vem carregada de insegurança e um certo amargor em relação ao que o que compara não tem ou não está conseguindo. Outra vertente é a pessoa que está sempre se comparando com pessoas que ela julga estar (ou ser) em situação inferior. Este tipo de comparação cria hierarquias entre os “mais” e os “menos” e, por este motivo, as duas reações que descrevi acima ocorrem.
O problema da desvalorização ocorre quando “mais” e “menos” se tornam sinônimos de pessoa “melhor” ou “pior”. Ou seja, se a grama do meu vizinho é mais verde ele: (1) Tem a grama mais verde, (2) é uma pessoa melhor que eu, portante (3) eu sou uma “droga” mesmo (ou qualquer variação tais como: “não faço nada direito mesmo”, “não tenho chance”, “não sou digno”). Existe uma diferença grande entre admirar alguém que detém uma qualidade e julgar o seu “eu” por não possuir a mesma qualidade no mesmo “nível”.
A diferença é que, por exemplo, o fato do vizinho ter uma grama mais verde não quer dizer mais nada sobre ele além do fato de ele cuidar bem da grama. E não diz nada sobre você a não ser não cuidar tão bem da grama. Indo mais a fundo, é possível dizer que ele cuida da grama do jeito dele e você do seu e cada um obtém resultados diferentes e único à experiência de cada um. A competição que a comparação cria é sempre arbitrária porque definimos um determinado critério de forma aleatória.
Quando a comparação é “saudável” a pessoa consegue avaliar o critério sem interferir no aumento ou diminuição do seu “eu” ou do “eu” dos outros. Por exemplo: “Beltrano tem mais amigos que eu”. A comparação é dada pelo número de amigos. O que pode se seguir é: ele tem competências que eu não tenho, como ligar sempre para os amigos, estar comparecendo em eventos sociais e organizar estes eventos. Estas são as competências que fazem a diferença (aos olhos de quem está comparando).
A comparação “saudável” faz com que o comparador simplesmente compreenda que ele pode aprender com o outro e usar parte de sua estratégia para obter resultados semelhantes. Não é necessário diminuir meu eu e nem elevar o do outro para fazer isso. Neste caso temos uma pessoa que simplesmente compara e não hierarquiza-se no processo.
Já na comparação que é, na verdade, um processo de desvalorização temos que as características que o outro tem o fazem “mais” ou “melhor” enquanto que o comparador se faz pior frente à elas. “Eu nunca consigo amigos porque desse jeito não dá mesmo”, “eu sou meio anti social, porque as pessoas não são diferentes”. Neste momento um processo de vitimização pode acontecer junto com uma desvalorização pessoal deslocada por pegar a parte e tratar do todo.
Além disso muitas vezes perceber que outra pessoa é “melhor” que você em alguma coisa simplesmente fala sobre o seu estilo de vida. Existem pessoas que tem menos amigos porque são mais introspectivas e simplesmente sentem-se bem assim. É importante comparar-se com pessoas (se você realmente quer fazer isso) que possuem algo em comum com você ao invés de fazê-lo com pessoas diferentes do seu estilo de vida.
Abraço