• 12 de fevereiro de 2016

    Remoendo

    – Eu não consigo tirar isso da cabeça!
    – Nem deveria.
    – Porque não?! É horrível pensar nisso!
    – Mais horrível é não pensar e correr o risco de repetir tudo mais tarde.
    – Que nem eu já fiz?
    – É né?
    – Mas me ajuda a tirar esse sentimento de mim!
    – Eu acho que é com ele que você tem que ficar ao invés de tirar.
    – Mas…
    – Sem ele, você pensa no que tem que pensar?
    – Não…
    – Então ele ainda é necessário…

    Remoer situações, diálogos, momentos de nossas vidas é uma atividade comum entre os seres humanos, principalmente quando é algo que mexe com nossas emoções. Saber quando é o momento em que remoer é algo prejudicial ou não é fundamental para sabermos como lidar com este comportamento. Você sabe reconhecer esses limites?

    Dificilmente remoemos situações que sabemos como lidar ou que não mexeram com a gente. Porque? Pelo simples fato de que não precisamos aprender nada com estas situações que não tenhamos conhecimento prévio. Também significa que estas situações não nos propõe um movimento diferente do habitual. Porque estou falando disso? Pelo fato de que remoer é um comportamento que tem a ver com aprendizagem. Em outras palavras: você não remói à toa, seu cérebro está buscando uma maneira de resolver uma situação, qual maneira melhor do que mantê-la o tempo todo na mente? E que forma mais eficaz do que fazer você se emocionar?

    Obviamente uma pessoa que já passou pelo processo sabe que existe um limite. Pessoas que trabalham com processos criativos sabem que existe um momento no qual deve-se parar de refletir sobre o tema de pesquisa para que uma resposta possa nascer. O mesmo vale com nós quando estamos resolvendo problemas pessoas ou lidando com situações que “não saem da nossa cabeça”. O seu cérebro precisa de uma resposta e para isso mantém as imagens na mente e as emoções vivas no coração, porém, muitas pessoas se apegam à emoção e não saem mais dela, começam a fazer um “loop” inadequado que não as ajudam a resolver a situação.

    Neste caso é que estamos “remoendo”, ou seja, a partir do momento em que a reflexão perde seu sentido e se torna apenas o retomar de uma emoção e ato de relemebrar do que aconteceu se torna inútil por não trazer nada de novo à pessoa, nenhum aprendizado se forma ali. O ato de remoer “saudável” envolve o relembrar das cenas e da emoção, mas o que isso significa? O que fazer com isso?

    Ao trazer as cenas o seu cérebro está lhe mostrando os “fatos” ao trazer a emoção está lhe mostrando o que você mesmo pensa e como você julga – e se julga – os (nos) fatos. A partir disso esses dois elementos ficam ecoando dentro de você buscando por uma “solução”, dependendo da emoção, situação e capacidades pessoais poderemos dar uma ou outra resposta à situação. Esta solução, quando alcançada, em geral muda o estado emocional da pessoa gerando uma outra emoção. Este processo se repete até o ponto em que o sujeito e seu organimo sintam-se satisfeitos com a reposta. Enquanto isso não ocorre, o ato de remoer permanece. Este remoer é saudável, pois busca soluções, atitudes.

    Quando, por outro lado, a pessoa se apega à emoção porque se identifica com ela e passa a remoer as cenas como uma maneira de mostrar para si mesma o quanto ela merece aquela emoção, isso pode ser contra produtivo. O remoer torna-se uma âncora para sentir uma determinada emoção e a pessoa pode usar isso de maneiras prejudiciais. Em casamentos, é comum uma das pessoas lembrar de brigas ou situações passadas e sentir-se triste ou com raiva apenas para sentir-se assim em relação ao conjugue. Não no intuito de realmente resolver a situação e seguir adiante. Este é um exemplo no qual o remoer não ajuda.

    Outro exemplo é aquele no qual a pessoa remói por não tomar uma atitude. Nesse caso o lado saudável é aquele que mantém a pessoa “pressionada” para tomar uma ação. É como se o cérebro dissesse “só paro de mandar estas informações quando você agir diferente”. Esta pressão é boa e ajuda na mudança e evolução pessoal. Porém quando a pessoa se identifica com o papel de vítima (“tá vendo, nunca faço nada direito, tá aqui, sempre lembro do dia em que eu não…”), por exemplo, é prejudicial por mantê-la presa num padrão disfuncional.

    Então, use o seu “remoer” de maneira saudável. Dê-lhe atenção, saiba que as cenas e emoções que ficam se repetindo estão ali para o seu bem, para que aprenda algo, faça algo e, então possa seguir o seu caminho.

    Abraço

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