• 15 de janeiro de 2016

    Tristeza é doença?

     

    – Eu não quero ficar triste assim.

    – Entendo, mas, você está.

    – Mas tristeza não é uma doença, eu li algo assim.

    – Então todos os seres humanos são doentes porque todos sentimos tristeza.

    – Eu não gosto e não entendo pra que ficar assim.

    – Essa é uma pergunta boa para começar

     

    No ano de 2015 a tristeza foi, de certa forma, classificada como um tipo de doença por alguns órgãos ligados à saúde mental. Em defesa desta emoção escrevo este post para esclarecer que tristeza não é doença, emoção não é problema.

    Emoções são reações que todos os seres humanos possuem, nenhum de nós nasceu sem a capacidade de sentir tristeza, medo e raiva. As emoções são fundamentais para o nosso desenvolvimento psíquico assim como para nos ajudar a viver no mundo e em sociedade.

    A tristeza, em particular, é uma emoção muito mal vista. O filme “Divertidamente” (na tradução em português) demonstra como a tristeza é uma emoção mal compreendida pela nossa sociedade. No filme a emoção “alegria” comanda a vida psíquica de uma menina e junto com ela trabalham a tristeza, o medo, a raiva e o desdém.

    No filme a única emoção para a qual a “alegria” não sabe a utilidade é a tristeza. Ela “não compreende” a tristeza e nem para o que ela serve. Ao longo do filme a tristeza mostra a sua importância para a alegria. Com um toque ou com um simples ouvido amigo para ouvir a tristeza do outro esta emoção mostra que sem a tristeza aquilo que nos é importante perde o valor e, também ensina que muitas vezes entristecer-se é a solução.

    O mesmo ocorre em nossa sociedade ultra narcisista que acredita que está tudo sempre bem e que todos devem estar sempre sorridentes e ativos. Nesta perspectiva a ideia de parar e chorar é tida como algo disfuncional: não aparece bem na selfie, não é bom para os negócios e nem para os estudos. A tristeza deve estar errada. Ou talvez a nossa sociedade não é mesmo?

    A tentativa ainda que sutil de classificar o ato de entristecer-se com uma doença é uma prova cabal de que estamos, doentes, mas não por causa da tristeza e sim pelo fato de não sabermos mais lidar com emoções e precisarmos de medicação para manter um sorriso e uma atividade sempre altivas. Voltando ao filme o que a personagem principal a “alegria” aprende é que a tristeza não apenas é funcional como, também, que a vida é feita de várias emoções ao mesmo tempo, que a tristeza e a alegria podem combinar-se e aí temos uma vida emocional ainda mais rica ao invés de doente.

    A doença diga-se de passagem está em querer fingir que não temos emoções e que somos autômatos apenas correndo atrás do salário mais alto.

    Abraço

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