– Akim, mas eu não sei… não estou fazendo nada de errado?
– Não sei. Você quer vender sua casa, o que tem de errado nisso?
– Eu acho que deveria falar com meu pai antes.
– O que falar com ele vai fazer isso ser certo?
– Sei lá… acho que preciso ver se ele aprova.
– A aprovação dele torna a sua decisão certa?
– Faz com que eu saiba que não é errado.
Aprendemos o que é errado e o que é proibido desde muito cedo. Esses dois critérios são muito definidores em nossas vidas porque são limites ao nosso modelo de mundo, como lidar com limites que são ou se tornam disfuncionais?
Adão e Eva tinham uma proibição: não comer da árvore do conhecimento. Ao transgredir a regra estavam abrindo o caminho para o conhecimento das dualidades, de tudo o que conhecemos hoje. A transgressão os levou à um novo patamar de existência. A maldição divina lançada sobre eles pode ser bem entendida como o preço à pagar pela maturidade que adquiriram na árvore. Cada vez que alçamos um novo patamar existem preços à serem pagos.
O limite que Deus havia dado ao casal tornou-se disfuncional na medida em que o casal evoluiu. Suas relações e sua vida estava pedindo por algo à mais, não ter o conhecimento do mundo não era mais algo útil. Da mesma maneira quando uma mãe diz ao filho “não fale com estranhos”, bem isso pode ser útil quando a criança de cinco anos está num parquinho cheio de estranhos potencialmente perigosos. Mas será ainda útil quando estiver na faculdade buscando novos amigos ou no mercado de trabalho desenvolvendo um network?
A proibição visa proteger a pessoa de alguma coisa potencialmente perigosa, porém aquilo que é perigoso está vinculado ao domínio que a pessoa tem do seu meio. Assim para uma criança “não mexa no fogão” é plausível, para um adolescente é superproteção. A partir do momento em que a pessoa tem capacidade de lidar com aquilo que é perigoso ela deve transgredir para ir além ou ficar presa numa vida limitada demais para ela.
Já o “errado” é algo ligado à moral e/ou à funcionalidade de alguma coisa. “Isso é errado” e “isso não funciona assim” são frases que envolvem o critério de “erro”. Quando se diz que algo é errado é importante compreender em relação à que isso se torna um erro. O erro só pode ser considerado se aquilo que é “certo” também existir. Só se pode falar de uma maneira errada de agir se existir uma certa.
Nesse sentido é que se deve avaliar os critérios de “erro”, ou seja, em função do que eles estão demonstrando ser o certo e o errado. Talvez seja errado para uma criança ou um pré adolescente tomar bebida alcóolica, mas para um adulto responsável não. Retrucar o pai e a mãe pode ser um erro quando pequeno, mas enquanto adulto confrontar uma pessoa ou uma autoridade e defender o seu ponto de vista pode se fazer fundamental como num julgamento.
O erro visa fazer com que a pessoa tenha um bom curso de vida. Ao dizermos que algo é errado a intenção é que ela trilhe uma vida boa. Enquanto crescemos precisamos redefinir isso segundo critérios pessoais que envolvem o que nossos pais nos disseram, mas também nossas experiências pessoais e aquilo que queremos e esperamos da vida.
Proibições e definições de errado visam organizar nossa vida de uma maneira protegida e reta. Todos desejam isso de uma forma ou de outra, a questão é sempre conseguir perceber qual forma é essa e negociar de maneira clara consigo mesmo o que fazer e como.
Abraço
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