– É difícil para mim.
– Eu sei, nem sempre é fácil lidar com isso.
– Eu fico remoendo sabe?
– Claro. Agora, o que é difícil, aceitar a perda ou conviver com ela?
– Conviver…
– Quem você é agora que perdeu?
– Não sei direito…
– Isso te deixa inseguro?
– Sim, sempre soube quem eu era… agora… parece que perdi a identidade entende?
– Sim.
Muitas pessoas tem dificuldades em lidar com perdas. Muitas vezes o problema não está relacionado com a perda em si, mas sim com a maneira pela qual a pessoa se percebe com a perda.
Perder algo é lidar com uma assimetria. Aquilo que era – ou que esperávamos que era ou que fosse – se torna algo que não é mais. É como uma estante de livros, na qual vemos um buraco onde, antes, estava um livro. Lidar com aquele buraco é lidar com a perda. Esta assimetria é o que nos faz sofrer, aprender que aquilo que, neste momento, nos parece assimétrico, será a nossa nova vida – a nossa nova simetria, nosso novo parâmetro – é lidar com a perda.
Porém isso envolve, muitas vezes em mudanças internas também. Homens, por exemplo, durante muito tempo – e ainda hoje – sofrem ao se aposentar por perderem o seu papel na empresa. Aquela imagem de pessoa forte, dono de um setor e detentora de poder se desfaz. Como se perceber enquanto pessoa novamente?
Muitas vezes o problema é que a pessoa se identifica com a perda e se torna um “perdedor”. Neste sentido ele se percebe como o buraco, como aquilo que falta e esta perspectiva pode infectar a sua noção de futuro, fazendo com que ele creia que nunca mais será outra coisa senão este buraco.
Cada um tem uma percepção do que é um “perdedor”, para alguns é um “burro”, para outros um “fracassado”. Desta maneira a concepção que ela tem de perdedor será aquela que irá assumir para si. Se perdedor for algo ruim e nocivo ela irá perceber-se desta maneira.
Aí podemos ter o problema da pessoa assumir esta noção de si e ter comportamentos que são “adequados” à um perdedor ou então lutar contra isso tentando desesperadamente se afastar dessa noção. Ambos são ruins pelo fato de estarem destruindo a pessoa por dentro.
Assumir a identidade de perdedor, no entanto, pode ser simplesmente assumir que você é uma pessoa que, de fato, já não mais possui algo. Porém, porque isso precisa ser necessariamente e somente ruim? Lidar com a perda pode significar uma nova forma de ver a si e a vida, até mesmo pode ser uma nova chance de ver aquilo que você perdeu, será que o poder de uma empresa é a única forma de sentir poder?
O problema da identidade, então, é que sim aquele que perdeu é um “perdedor”, porém, nem sempre perdedor nada mais é do que aquele que perde. O motivo que levou a perda e se a perda em si é algo bom ou ruim e de que maneira é boa ou ruim são assuntos para deliberar. Esta deliberação é importante para que a pessoa identifique-se com aquele que perde de uma maneira à ir além da perda e não para afundar-se nela.
Abraço