– Mas e como vou falar isso para ele?
– Qual o problema?
– Ele não via gostar…
– Sei que não.
– E se a gente brigar?
– Pelo menos vai ser por um motivo bom e não essas briguinhas bobas que vocês tem tido.
– É verdade.
Muitas pessoas evitam o conflito com pessoas importantes afim de manter a harmonia e a proximidade com estas pessoas. Porém, até que ponto manter a proximidade deve ser o critério mais importante à ser levado em conta?
Em primeiro lugar é importante compreender que humanos são seres gregários, ou seja, estamos biologicamente prontos para funcionar em grupos, não é apenas uma questão cultural. Assim sendo, ser excluído ou sentir-se excluído é um fator estressante para nós.
Por outro lado, é importante verificar que o ser humano também consegue viver só. A solidão pode ser dolorida, porém não torna a vida impraticável. Os eremitas mostram isso desde o início dos tempos e muitas pessoas sentem-se muito bem em passar períodos longos de tempo apenas com elas mesmas.
A verdade é que ambos são necessários para uma vida mental saudável: a vida em comunidade e a vida consigo. Alcançar níveis satisfatórios nessas duas questões é importante não apenas para nós, mas para as nossas relações. Dizer que somos gregários e que a solidão é algo difícil não é o mesmo que afirmar que devemos “topar qualquer coisa” para estarmos perto de pessoas – mesmo as que amamos e são importantes.
É importante criar relações que satisfaçam elementos importantes e fundamentais de cada indivíduo. Esta é a maneira mais complexa de estabelecer vínculos, pois pressupõe honestidade e auto percepção. Boa parte das relações humanas acabam tornando-se repetitivas e mecânicas assim como no filme de Chaplin “Tempos Modernos”. Muitas pessoas mantém casamentos e outras relações apenas “apertando os botões” do dia a dia.
Ser honesto é difícil porque, o tempo todo, precisamos verificar aquilo que desejamos e nos dizer como estamos nos sentindo em relação à nossa vida e relações. Esta dificuldade, por outro lado, repercute em relações leves, nas quais se constrói uma vida à dois de fato, personalizada e atualizada sempre. É o lema de que o preço da liberdade é a eterna vigilância.
Vigiar aqui não em um sentido policial, mas sim de estar atento à sua saúde mental. O maior problema que vejo no consultório é que as pessoas resolvem abrir mão das pequenas coisas afim de não terem incômodos com o outro. Ledo engano, ao final sempre terão o incômodo, porém, por outras coisas que não são importantes. Se for para brigar, sempre digo, brigue por algo que vale à pena. E então, fica a pergunta: você “briga” pelo que vale à pena?
Abraço