– Eu não sei o que ela quer falar tanto.
– Me parece que quer falar dela apenas.
– Mas porque?
– Porque não?
– Eu não fico falando de mim, porque tenho que ficar ouvindo ela.
– Você não querer não significa que ela não quer. O que te incomoda na atitude dela?
– Não sei… fico meio nervoso.
– Sente-se acuado?
– Sim.
– Você não precisa falar nada se não quiser, porque se sente acuado com ela falar sobre ela?
– Não sei… parece que ela quer que eu fale.
– E você não gosta de falar de você?
– Não.
A abertura de algumas pessoas aparece como uma carga pesada sobre outras. Saber expôr-se é um fator importante para a criação de uma boa auto estima, saber receber, também.
Intimidade é uma virtude desejada nas relações, porém, desenvolvê-la requer lidar com elementos em nós que podem provocar medo, vergonha ou culpa. Ocorre que mesmo que não gostemos de determinadas características em nós, ainda assim elas constituem a nossa auto imagem. O ser humano tende a defender sua auto imagem, mesmo que ela seja prejudicial para ele, desta maneira, assume comportamentos que visam este fim.
No caso de relacionamentos, quando uma das pessoas está de bem consigo e tem uma boa auto estima, o fato de apreciar falar sobre si e de seus desejos pode soar de uma maneira equivocada para um conjugue com baixa auto estima. O exemplo que dei acima é o mais clássico, a exposição soar como “cobrança” para que o outro se exponha também.
Este caso implica que a pessoa não gosta e não consegue lidar com alguns elementos dela própria, quem dirá revelar isso à terceiros. Assim, a auto imagem negativa entende que está acontecendo um jogo ou uma agressão. A fórmula é parecida com “o que ela quer saber de mim? Porque” ou então: “quem ela acha que é se gabando de ser boazona?”. Este tipo de formulação mental indica que a pessoa deve se defender e para isso poderá atacar ou ficar na retaguarda.
Quem ataca, em geral, utiliza a fórmula cunhada por Reich da “peste emocional”. Ela tenderá a denegrir os comportamentos do parceiro com ataques das mais variadas estruturas como ironias, punições completamente arbitrárias e reforços intermitentes para confundir a pessoa, minar seu desejo de exposição e até mesmo fazê-la culpada daquilo que gosta em si.
A retaguarda pode se manifestar no papel de vítima que cobra do outro por um “tempo”, ou um “espaço” para poder respirar. Nesta forma de agir a pessoa coloca no outro a responsabilidade pela sua inadequação em relação à sua própria auto imagem de maneira a denegrir moralmente a exposição em si.
Em ambos os casos o que fica comprometido é o desenvolvimento da intimidade. Em muitos casos, ao longo do tempo, o desejo de abertura também se compromete. Neste momento a pessoa com baixa auto estima sente uma emoção ambígua: de um lado sente-se bem, confortável, porque não vai mais se expor; de outro sente-se mal, porque percebe que está perdendo uma oportunidade e, quem sabe, a própria relação.
Abraço
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