• 20 de maio de 2016

    Concordar ou mandar

    – Mas Akim… como é que eu ia dizer para ele “sim”.

    – Não vejo por que não.

    – Mas ele ia se achar todo!

    – Ele tinha direito oras.

    – Como assim?

    – A ideia que ele trouxe ajudou você, não ajudou?

    – Sim.

    – Você concordou com ele não?

    – Sim.

    – Então… qual o problema em dizer para uma pessoa que está certa, que ela está certa?

    Qual a diferença entre obedecer alguém e concordar com alguém? Em muitas relações as pessoas confundem ambos conceitos e terminam por criarem brigas desnecessárias.

    Em primeiro lugar é importante estabelecer na localização, ou seja, onde ocorre o obedecer e onde ocorre o concordar. Obedecer é uma cena que lembra a vida militar. Lá não há necessidade de entendimento e sim de obedecer ordens. O sargento não pergunta, manda; o soldado não reflete, obedece. O ato de obedecer implica uma estrutura na qual há hierarquia e aquele que “está abaixo” precisa obedecer.

    Neste ponto, inclusive, é onde temos o maior problema nos relacionamentos. Quando um dos conjugues percebe a ameaça de hierarquia, logo rebela-se e cria conflito. Mas, será este conflito criado uma expressão de liberdade? Já vamos responder.

    Antes é importante conhecer a ideia de concordar. A concordância me remete ao bar onde você está conversando com amigos sobre temas polêmicos e ao ouvir as ideias de um deles você acaba entendendo e concordando com a ideia. Veja que, neste exemplo, não há imposição de ideias e sim a percepção de uma ideia que faz sentido aos meus olhos e, seguindo isso, o ato de escolher ter esta ideia como minha, daí a palavra: concordar.

    Pois bem, para muitas pessoas perceber uma ideia diferente daquela com a qual entrou numa discussão como boa é um sinal de hierarquia e tentativa de controle. Em outras palavras: se a pessoa tem o desejo em concordar com a ideia do colega, confunde isso com o colega ser mais inteligente, manipulativo ou melhor que ele. Assim sendo rebela-se diante da ideia, mesmo já tendo aceito ela.

    O conflito, nesse caso, está longe de ser uma expressão de liberdade porque é, na verdade, uma expressão de imaturidade. A pessoa não consegue lidar bem com a noção de que suas ideias podem mudar, de que, a partir de uma conversa alguém pode sair transformado e isso não é obedecer alguém e sim ampliar os seus próprios horizontes. Bauman cita um autor que diz que em uma discussão verdadeira, nenhum dos envolvidos sabe onde ela vai terminar. Isso é verdade porque na discussão “verdadeira” estamos abertos às ideias, é um jogo de reflexão e não de estruturação de hierarquias.

    Confundir mudança de opinião com ser mandado é sinal de uma auto estima frágil sedimentada sobre a imutabilidade do ser o que é uma percepção nociva à auto estima que se restringe e se solidifica em uma imagem que não pode ser mudada, mesmo que seja para melhor.

    Nesses tempos atuais de intolerância ao diferente é necessário refletir sobre as discussões que temos e o quanto nos permitimos impactar pelos discursos destoantes dos nossos. Aprender a lidar com a diferença e com a possibilidade de concordar com ele ou com partes dele são a chave para uma sociedade mais acolhedora e humana.

    Abraço

     

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