– Eu estou com medo de fazer isso.
– Eu sei. Como está fazendo para temer?
– Como assim?
– Bem, já vimos que você sabe como lidar com a situação, já verificamos que o pior que pode lhe acontecer não é ruim, então… como você está criando o seu medo?
– Hum… bom… eu não sei, mas é que eu fico pensando que algo pode dar errado sabe?
– Sei… e?
– E daí… não sei algo muito ruim pode acontecer sem a gente ter visto sabe?
– Sei, então você, depois de verificar o que é real está criando algum “monstro” repentino?
– É… é isso, sempre faço isso…
Sabemos que temos medo, sentimos nosso corpo ficar tenso, nossos pensamentos ansiosos e tendemos à fugir ou ficar paralisados. Mas como criamos a experiência de medo em nossa mente? O que faz com que algo que causa medo em uma pessoa seja divertido para outra?
Parto do suposto de que nossos sentimentos tem um correlato mental que, muitas vezes, cria a emoção que sentimos. Traduzindo: algumas vezes somos capazes de evocar, criar uma emoção a partir daquilo que pensamos. A memória é capaz de evocar emoções ruins e boas, assim como ela, a fantasia também o faz.
Dependendo da maneira pela qual elaboramos uma situação em nossa mente, nos predispomos a sentir uma emoção ao invés de outra. O esportista, por exemplo, sente desafio ao encarar uma montanha nevada enquanto uma outra pessoa pode sentir preguiça ou medo.
Aquele que sente medo, tende a refletir sobre os possíveis danos que ele poderá sofrer caso encare a montanha. Em sua mente a pessoa começa a criar várias cenas nas quais ela sofre um escorregão, cai num buraco com neve e morre de frio. Estas imagens geram a percepção de que a montanha é perigosa e capaz de gerar danos. Quando estas imagens são suficientemente vívidas e a pessoa não se percebe capaz de mudar a situação, ela fica com medo.
O medo é uma emoção que visa nos deixar espertos para nos proteger. Ele aguça nossos sentidos e nos faz temer um possível dano. Porém, muitos de nossos medos apenas existem porque criamos cenários que entendemos como perigosos, mas não são, ou aqueles que são, de fato, mas apenas enquanto não temos uma maneira de lidar com eles, neste caso o problema maior não é a situação, mas sim a nossa incapacidade em lidar com ela.
A pergunta, “como você faz para sentir medo” nos leva a investigar a maneira pela qual criamos a cena em nossa mente. O medo relaciona-se com alguns aspectos: o foco apenas nos elementos que podem causar dano. Quando o foco recai em grande parte ou completamente sobre os elementos que podem causar danos a pessoa sentirá medo. Aqui é importante verificar se estes elementos são, de fato, grandes causadores de dano, se a pessoa não está exagerando o foco sobre estes elementos e se esquecendo do restante e se ela não pode se defender deles de alguma maneira.
O segundo é como a pessoa se vê em relação ao dano que poderá sofrer. Existem, basicamente, duas alternativas: ser “vítima” ou “lutador”. A vítima é a pessoa que se vê, imediatamente, sofrendo do dano. A posição de vítima não é moral e sim experiencial, ela se percebe impotente frente ao problema que poderá surgir. Muitas vezes o somos de fato e, por este motivo, é importante reconhecer e buscar conhecimento ou ajuda para superar. Outra alternativa é que a pessoa se ache vítima mesmo não sendo.
Já o lutador enfrenta o medo. O problema aqui surge quando a pessoa gosta deste enfrentamento e procura sempre situações que o faça sentir medo. A situação pode sair ao controle e o lutador pode acabar mal ao enfrentar em demasia os seus medos.
O terceiro ponto é verificar, com consistência se aquilo que é temido, é, de fato, um elemento para ser temido. Isso não significa desvalorizar as emoções de uma pessoa, mas sim medir a grau de realidade com o qual a pessoa mede o que lhe acontece. Muitas vezes o problema com o medo nada mais é do que um exagero por parte do “medroso” em relação a sua realidade.
Abraço
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